O Exército ucraniano se retirou da cidade de Avdiivka, no leste do país, para evitar a morte de seus soldados, concedendo à Rússia sua maior vitória simbólica desde a fracassada contraofensiva lançada por Kiev no verão no hemisfério norte.

Desde outubro, os soldados ucranianos resistiam em inferioridade numérica e material aos ataques russos contra esta localidade na bacia de mineração do Donbass, onde a situação se tornou especialmente crítica nos últimos dias.

A retirada de Avdiivka foi uma “decisão correta” para “salvar o maior número possível de vidas”, declarou neste sábado o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

“Para evitar um cerco, foi decidido recuar para outras linhas. Isso não significa que recuaram por quilômetros e a Rússia tomou algo, não tomou nada”, afirmou.

Ucrânia, que enfrenta uma crescente falta de recursos -especialmente pelo bloqueio da ajuda militar americana-, dificilmente poderia evitar esta recuada frente à Rússia, que, com mais soldados e munições, instou suas tropas a conquistarem esta cidade poucos dias antes do segundo aniversário do início da invasão, em 24 de fevereiro.

“Na situação em que o inimigo avança sobre os cadáveres de seus próprios soldados e com dez vezes mais obuses […] Esta é a única solução viável”, justificou o general Tarnavski ao anunciar a retirada.

– “A decisão correta”-

A retirada de Avdiivka é a primeira grande decisão militar desde a nomeação de um novo comandante-chefe, Oleksander Sirski, em 8 de fevereiro.

“Decidi retirar nossas unidades da cidade e passar à defesa em linhas mais favoráveis”, escreveu Sirski em sua página do Facebook.

“Nossos soldados cumpriram seu dever militar com dignidade, fizeram todo o possível para destruir as melhores unidades militares russas e infligir perdas significativas ao inimigo”, acrescentou.

Antes de oficializar a retirada da cidade, Tarnavski reconheceu que “vários soldados” ucranianos foram “capturados” pela forças russas.

Um militar ucraniano mobilizado no front declarou à AFP que a retirada de Avdiivka era necessária.

“Foi a decisão correta considerando a falta de armas e mísseis de artilharia, já que se não salvarmos as vidas de nossos soldados, logo não teremos ninguém para lutar”, declarou sob anonimato à AFP.

Avdiivka, onde viviam cerca de 34.000 pessoas antes do início da guerra, se tornou um símbolo da resistência das forças de Kiev.

– Jornada europeia de Zelensky –

Apesar de estar em grande parte destruída, cerca de 900 civis ainda permanecem lá, segundo autoridades locais. A Rússia espera que sua tomada dificulte os bombardeios ucranianos sobre Donetsk.

A cidade foi brevemente tomada em julho de 2014 pelos separatistas pró-russos, mas voltou ao controle de Kiev, que a manteve durante todo esse tempo apesar de sua proximidade com Donetsk, reduto separatista no leste da Ucrânia há dez anos.

Seg undo Kiev, o Exército russo multiplicou desde outubro os ataques para tomar a cidade, apesar das elevadas perdas humanas.

Avdiivka é o avanço mais significativo para a Rússia desde a conquista de Bakhmut em maio de 2023, após meses de combates que deixaram milhares de mortos.

A tomada da cidade ocorre enquanto Zelensky viaja pela Europa.

O presidente lamentou neste sábado a falta de munição e armas à disposição de seu Exército, o que confere uma vantagem às tropas russas.

A vide-presidente americana Kamala Harris disse em Munique que o apoio à Ucrânia não deve depender de “jogos políticos” nos Estados Unidos.

Neste contexto, Zelensky assinou na sexta-feira dois acordos bilaterais de segurança, um deles em Berlim com o chanceler alemão Olaf Scholz e outro em Paris, com o presidente francês Emmanuel Macron.

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