O Exército colombiano pediu, nesta terça-feira (3), perdão pela primeira vez aos familiares de 19 dos 6.402 civis assassinados por soldados e que em algumas ocasiões eram vestidos de guerrilheiros para serem contabilizados como baixas inimigas durante o conflito armado.

“Reconhecemos que ocorreram eventos dolorosos cometidos por membros do Exército Nacional que nunca deveriam ter acontecido”, disse o comandante dessa força, general Luis Ospina, durante um evento em Bogotá.

Os assassinos e seus cúmplices “mancharam a legitimidade” da instituição, acrescentou o alto comando. “Oferecemos nossas sentidas e sinceras desculpas” e “pedimos perdão”, afirmou diante dos parentes das vítimas.

Em sua maioria mulheres ouviram as palavras de Ospina e exigiram saber a verdade sobre quem deu a ordem para assassinar esses civis para inflar resultados militares em troca de benefícios como dias de folga e condecorações entre 2004 e 2008.

Em julho, o ministro da Defesa, Iván Velásquez, pediu desculpas por outra dessas execuções. Nesta terça-feira, o presidente Gustavo Petro qualificou a prática como “genocídio”.

“Que as armas nunca se voltem contra o povo novamente”, afirmou o presidente, crítico de governos anteriores e antigos chefes militares.

Desde que grupos de vítimas começaram a apontar que jovens foram enganados por membros do exército com promessas de emprego para depois serem mortos a sangue frio, os comandantes do exército negaram que fosse uma ação sistemática. Eles chegaram a afirmar que era uma invenção de organizações de esquerda para deslegitimar as forças de segurança.

Mas a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), o tribunal nascido do acordo de 2016 que desarmou as Farc, determinou em 2021 que pelo menos 6.402 pessoas foram vítimas dessa forma macabra de apresentar resultados na luta contra as guerrilhas.

Conhecidos como ‘falsos positivos’, os assassinatos de civis são o maior escândalo entre os militares em mais de meio século de conflito armado interno.

Em confissões à JEP, vários militares aposentados contaram como convenciam os jovens com ofertas de trabalho para depois matá-los a centenas de quilômetros de suas casas. A maioria dos jovens de Bogotá e Soacha foi levada para Norte de Santander, um departamento na fronteira com a Venezuela.

Alguns afirmaram que eram pressionados por seus superiores e até apontaram o general Mario Montoya, chefe do Exército entre 2006 e 2008 e muito próximo do ex-presidente de direita Álvaro Uribe, cujo governo foi palco da maioria dos ‘falsos positivos’.

Ao contar a verdade e reparar as vítimas, eles podem receber penas alternativas à prisão.

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