Pouco importam os motivos e a história por trás de mais essa barbárie brasileira. É certo que o País, após mais de 500 anos de descobrimento, mais de 200 anos de independência e mais de 100 anos de república, ainda não abandonou a selva – ou as cavernas.

Continuamos nos matando às pencas, como moscas. Matamos-nos nas ruas, nos bares, em casa, nos estádios. Matamos-nos por fechadas de trânsito, por ciúmes, por jogo de sinuca, por um gol contra no final do jogo ou mesmo por causa de um político qualquer.

Vivemos em uma espiral violenta que ceifa dezenas de milhares de vidas a cada ano, todos os anos. Flutuamos entre 40 mil e 60 mil mortes violentas anuais por décadas, a depender do ano e das estatísticas, calculadas sobre números muito pouco confiáveis.

Não combatemos adequadamente o tráfico de drogas, o roubo de cargas, o comércio de armas ilegais, não combatemos nada. Nem sequer o comércio paralelo de smartphones e peças de carro roubadas. Institucionalizamos, como uma triste nação, o crime.

O organizado, então, nem se fala. Estudos estimam que o PCC conte, hoje, com um exército de mais de 100 mil criminosos e fature estupendos 5 bilhões de reais por ano. Seus tentáculos se espalham, inclusive, pelos três Poderes, nas três esferas.

Somos um dos países “campeões” de assassinatos de mulheres e travestis. A sociedade brasileira, ao contrário da tese de Sérgio Buarque de Holanda, é violenta e nada cordial. Aliás, nossa cordialidade é como nossa indignidade: uma mosca sem asas (Skank).

Os três médicos brutalmente fuzilados em um quiosque de praia, em um bairro nobre do Rio de Janeiro, defronte a um hotel de luxo onde participavam de um congresso, escancara o nível de subdesenvolvimento do Brasil e nos torna ainda mais rejeitados internacionalmente.

Somos – e continuaremos – irrelevantes no turismo mundial também por sermos, além de precários em infraestrutura, violentos. Banânia só perde para a África do Sul, por exemplo, em insegurança para mulheres que viajam sozinhas. Ninguém vem pra cá, e fazem bem.

A Baía de Ha Long, no Vietnã, é uma pequena vila que recebe o mesmo número de turistas anuais do Brasil, cerca de 6 milhões de pessoas. Nosso vizinho, o México, nenhum exemplo, portanto, de desenvolvimento, recebe 45 milhões de turistas. Somos uma lástima.

Por aqui, retornando aos índices relativos à violência, a impunidade impera também no campo dos assassinatos. De cada 10 homicídios, 7 não são punidos. Por que “também”? Porque já somos notórios em impunidade dos crimes de colarinho branco.

As redes mundiais de TV publicam, em suas telas gritantes, a execução dos médicos e deixam, ainda que veladamente, a pergunta que não quer calar: “que país é este”? Pergunta, aliás, feita por Renato Russo, em 1987, e jamais respondida.

Temos um presidente da República que “romantiza” o furto de aparelhos celulares, dizendo que são para “comprar uma cervejinha”. Temos um ex-presidente que contrabandeou joias. E o estado do Rio contou todos os últimos governadores presos em algum momento.

Como “o exemplo vem de cima”, exigir das autoridades públicas uma solução é exigir da raposa não comer as galinhas do galinheiro. Eu já desisti. Só me resta ter medo e lamentar. E rezar por mim e meus entes queridos. E, claro, ter muita vergonha de ser brasileiro.