Na semana passada, um incômodo de Cléber Machado nos bastidores da Record foi revelado com exclusividade pela Coluna Matheus Baldi. O desconforto teria sido provocado por vir à tona uma negociação, ainda em fase inicial, entre Galvão Bueno e a emissora do Bispo Edir Macedo.
Tudo isso num momento estratégico: a Record está avaliando se entra ou não na disputa pelos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2026.
A possível contratação de Galvão é vista por alguns executivos do canal da Barra Funda como um trunfo nessa busca por um protagonismo esportivo que, por muito tempo, foi exclusivo da Globo. Procurada pela coluna, a Record confirmou que analisa, com atenção, a compra do evento esportivo mais assistido do planeta. Inicialmente, a emissora preferiu não comentar sobre tratativas com o narrador. Mas, após a repercussão da notícia, acabaram fazendo um adendo em seu posicionamento oficial:
“A Record não tem os direitos da Copa do Mundo. A transmissão deste evento ainda está em avaliação profunda pela direção da Record. Logo, não temos negociações com nenhum profissional para esta transmissão.”
O que, ainda assim, deixa aberto para que um acerto aconteça, caso se concretize a compra dos direitos de transmissão dos jogos no ano que vem.
Mas por que a decisão é tão delicada? Hoje, a Globo já garantiu parte dos direitos da Copa de 2026, um pacote robusto com 52 dos 104 jogos, incluindo todas as partidas da Seleção Brasileira, semifinais, final e outras partidas de grande apelo. A outra metade segue disponível, sendo comercializada pela empresa LiveMode, parceira oficial da Fifa no Brasil.
É justamente nesse pacote remanescente que a Record concentra sua análise. A preocupação é legítima: sem os jogos da Seleção, semifinal e final, o potencial comercial cai drasticamente. Esses ativos são justamente os que atraem os maiores investimentos publicitários, pela altíssima audiência e engajamento.
Os dados da Copa de 2022 reforçam isso: enquanto os jogos da Seleção Brasileira registraram média de 50 pontos no Painel Nacional de Televisão (PNT), atingindo quase 13 milhões de lares e cerca de 50 milhões de telespectadores, partidas como Espanha x Alemanha e Argentina x México ficaram entre 20 e 30 pontos em São Paulo, com no máximo 2,2 milhões de domicílios ligados. Ou seja, a diferença de audiência chega a 150%.
Especialistas do setor consultados pela coluna estimam que o pacote principal, já adquirido pela Globo, possa chegar a R$ 500 milhões, considerando a cotação atual do dólar. Já o pacote remanescente, comercializado pela LiveMode, é estimado em torno de R$ 400 milhões, com direitos para os outros 52 jogos em TV aberta, TV por assinatura, streaming e canais digitais. Embora os valores não tenham sido divulgados oficialmente, essas estimativas são baseadas em referências internacionais e nos preços praticados em negociações de edições anteriores do torneio em outros países.
Dentro da Record há quem veja a possibilidade de transmitir essa parte dos jogos da Copa de 2026 como um investimento estratégico. A ideia seria usar a experiência como laboratório para entrar na disputa, com mais segurança, pelo pacote mais robusto para a Copa de 2030. Vale lembrar que a Globo, que antes tinha exclusividade até 2030, optou por reduzir seu escopo contratual em 2023 e abriu mão da edição de 2030, reduzindo cerca de 50% dos seus custos.
Em meio às mudanças de consumo e aos novos modelos de negócios, as emissoras passaram a enxergar o esporte não apenas como uma fonte de audiência relativamente garantida e com forte potencial de faturamento, mas como uma oportunidade de reposicionamento de marca e conexão com as novas gerações. A disputa, hoje, vai muito além dos direitos de grandes campeonatos: é pela relevância no futuro de cada um desses importantes canais de TV.