A notícia publicada, na semana passada, por esta coluna, trazendo detalhes sobre o desejo do SBT de trazer de volta a irreverência e o estilo provocador do antigo Pânico na TV acabou ganhando um reforço de peso: o apresentador Ratinho se manifestou publicamente e declarou seu total apoio à volta da atração. “Sou totalmente a favor”, comentou ele no post publicado em meu perfil no Instagram.
Vale lembrar que, no ano passado, o SBT e a Jovem Pan chegaram a negociar a volta do Pânico à TV aberta. Segundo o TV Pop, a ideia era colocá-lo em horário nobre, enfrentando o Jornal Nacional. Mas as tratativas estão em pausa. Agora, com o apoio de Ratinho, a conversa pode ganhar um novo fôlego.
O comentário do apresentador não passou despercebido. Logo virou assunto entre internautas e fãs do programa, dividindo opiniões — como, aliás, sempre foi a tônica quando o assunto é Pânico. De um lado, gente comemorando com “palmas” e até pedindo “feriado nacional” pela possibilidade. De outro, críticas, ressalvas e desconfianças sobre o que realmente poderia ir ao ar em tempos tão diferentes daqueles vividos por Emílio Surita e sua turma nos anos 2000.
A declaração de Ratinho, no entanto, tem um peso que vai além do engajamento nas redes sociais. Querido e respeitado pela família Abravanel, ele faz parte de um seleto grupo que opina e colabora em decisões estratégicas do canal. Além disso, como dono da Rede Massa — afiliada do SBT no Paraná — e empresário de sucesso no agronegócio, Ratinho não é apenas apresentador, mas também uma personalidade muito respeitada por sua visão comercial.
O apoio declarado do comunicador surge no momento em que o SBT passa por uma importante reinvenção editorial. Nesta semana, a CEO do canal, Daniela Beyruti, e Leandro Cipoloni, diretor de jornalismo, comunicaram à equipe de programas jornalísticos uma mudança drástica: a partir de agora, o canal não exibirá mais tragédias nem reportagens policiais. É o que estão chamando, internamente, de “lei anti-desgraça”. A nova diretriz é clara: nada de pautas sensacionalistas. A proposta é valorizar conteúdos educativos, construtivos e mais leves. Casos policiais de grande repercussão serão noticiados, mas em tom mais brando e sem o uso de imagens consideradas chocantes.
Essa nova filosofia, embora louvável — e até necessária em tempos de tantos excessos e enorme exaustão emocional — representa um desafio para o projeto de retomada do Aqui Agora, um programa que ficou eternizado justamente pela cobertura policial dramática e, muitas vezes, explosiva. Afinal, foi ali que nasceu a famosa “câmera nervosa”, que acompanhava operações policiais em tempo real, antes mesmo da ascensão de programas como Cidade Alerta e Brasil Urgente.
É nesse cruzamento curioso entre a nova linha editorial do SBT e a busca por ousadia no entretenimento que ressurge a sombra (ou seria o brilho?) do Pânico. Um dos ingredientes dessa volta é o nome de Alan Rapp, diretor do antigo Pânico, agora responsável pelo comando da nova fase do Aqui Agora.
Mas o formato que se desenha deve ir muito além da simples repetição do passado.
Por exemplo, na previsão do tempo — antes apresentada pelo saudoso Felizberto Duarte, o famoso Feliz, que se tornou uma lenda do programa com figurinos espalhafatosos e o bordão “E piriri, pororó?” — a nova versão do programa trará uma proposta diferente. Nos bastidores, já é dado como certo que o quadro ficará a cargo de Marquinhos Santos, mais conhecido como Anão Marquinhos, que atuou por muitos anos como ajudante de palco na Record, ao lado de Geraldo Luís.
Uma fonte do canal acredita que os índices do Aqui Agora, com esse formato mais irreverente, servirão como um bom termômetro para que a direção do SBT volte a avaliar a possibilidade de trazer o Pânico para a TV aberta — um desejo que, inclusive, Silvio Santos já teve e chegou a negociar lá atrás. Embora agora o contexto exija uma série de mudanças e adaptações. O tom irreverente, sim, mas com mais critério. E é aí que mora a maior oportunidade — e o maior desafio.
Porque, sejamos justos: o formato tradicional do Pânico, como era feito nos tempos da RedeTV! e da Band, já não cabe mais no mundo de hoje. O que antes arrancava gargalhadas, agora pode gerar constrangimento — e com razão. Piadas sobre aparência física, sexualidade, raça e gênero, que antes passavam despercebidas, hoje são (e devem ser) revistas. Isso não é censura. É evolução. É sinal de que a sociedade está aprendendo — e desaprendendo — com coragem.
Mas se o Pânico acertava em algo, era na capacidade de provocar o debate. Junto com o CQC, foi um dos poucos programas que conseguiu brincar com política, expor absurdos e desafiar autoridades sem perder o timing do humor. Eram programas que combinavam irreverência com inteligência — e deixaram saudade.
Se a volta vier — e torço para que venha — que seja num novo tempo, com os pés no presente e os olhos no futuro. A TV aberta precisa ousar, sim. Precisa arriscar formatos que fujam da mesmice, que não sejam apenas mais um recorte da internet. Mas precisa, também, entender o momento histórico em que vivemos. Irreverência com respeito. Humor com consciência. E, acima de tudo, coragem para fazer diferente.
O apoio de Ratinho mostra que ainda há espaço — e vontade — para que a TV brasileira volte a surpreender. Que venha o novo, com alma de clássico e com tudo o que há de melhor desses novos tempos.