Os desafios impostos aos Estados Unidos pelo caso George Floyd também se aplicam ao Brasil, diz o promotor John C. Keller, responsável pelo caso que resultou na condenação dos policiais envolvidos no assassinato.

Keller é o atual vice-procurador-geral do Estado de Minnesota e proferiu, nesta sexta-feira (30/6), a palestra de encerramento do da 7ª Conferência Latino-Americana do Ministério Público, que reúne promotores de mais de 20 países, em Fortaleza. O evento é organizado pela International Association of Prossecutors, pelo MP do Ceará e pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp).

“Estar no Brasil falando sobre o tema demonstra a universalidade do que foi visto naqueles nove minutos e 29 segundos em que policiais fizeram uma lenta execução de um americano afrodescendente”, disse Keller, em entrevista antes de sua palestra. Segundo ele, a discussão a ser feita é sobre a crença de autoridades policiais de que podem fazer o que querem.

O caso, segundo ele, já resultou em mudanças positivas para o Estado de Minnesota e para os EUA, “mas, claramente, há muito mais trabalho a ser feito”. Ele fez uma comparação com o caso em que um policial de São Paulo pisou no pescoço de uma mulher negra.

“Os protestos imediatos [após a morte de George Floyd], não apenas em Minnesota ou nos Estados Unidos, mas no Brasil, na Europa e na América Latina demonstram que esse sentimento de vitimização, esse sentimento de impotência, é algo que ainda precisamos trabalhar. Todos nós em posição de poder, em posição de fazer nossas constituições, precisamos trabalhar para fazer nossas leis serem aplicadas igualmente”.

O caso

George Perry Floyd Jr., um homem negro de 46 anos, foi detido e sufocado por um policial branco chamado Derek Chauvin, em 25 de maio de 2020, em Minneapolis, nos Estados Unidos. O incidente foi capturado em vídeo por um pedestre e amplamente divulgado nas redes sociais, gerando indignação e protestos em todo o mundo.

A abordagem policial ocorreu após uma denúncia de suposta tentativa de uso de uma nota falsa de 20 dólares em uma loja local. Os policiais chegaram ao local e detiveram Floyd, colocando-o algemado no chão, enquanto Chauvin pressionava o joelho contra o pescoço de Floyd por aproximadamente nove minutos, mesmo diante dos apelos de Floyd de que não conseguia respirar. Essa ação foi realizada enquanto Floyd estava imobilizado e já sob controle dos policiais.

O vídeo que mostra toda a cena do assassinato de Floyd se tornou viral, desencadeando uma onda de protestos contra a brutalidade policial, o racismo sistêmico e a desigualdade social. Os protestos ganharam proporções globais e deram origem ao movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), que busca conscientizar sobre a violência policial direcionada a pessoas negras e exigir mudanças no sistema de justiça criminal.