O que parecia ruim corre risco de ficar pior — e a Globo sabe disso. A crise nos bastidores de Vale Tudo, envolvendo Bella Campos e Cauã Reymond, deixou de ser apenas uma tensão interna. Como esta coluna antecipou no fim da semana passada, o desentendimento entre os protagonistas começou a interferir diretamente em ações comerciais da novela das nove.
Fontes ouvidas com exclusividade revelaram que o departamento comercial, antes otimista com campanhas negociadas, passou a agir com apreensão, e algumas negociações importantes acabaram ficando travadas. Marcas que já tinham acordos alinhados pediram tempo. Outras, que estavam prontas para embarcar, optaram por esperar.
Mas os reflexos da crise foram além. A produção de conteúdo para o perfil oficial da personagem Fátima Accioly, interpretada por Bella Campos no Instagram, também foi impactada. A ausência da atriz em algumas gravações forçou a Globo a reestruturar o cronograma de postagens.
O perfil é uma das principais apostas do departamento comercial para ativar campanhas em collab — um modelo que une a teledramaturgia com o universo digital. Está em standy by, por exemplo, uma ação colaborativa entre o perfil da personagem e o perfil pessoal da própria Bella. Parcerias com influenciadores da vida real e apresentadores da emissora carioca também estão previstas como parte da estratégia inovadora.
Internamente, alguns executivos da área até ficaram desapontados, mas a maioria ainda não trata as ações — algumas com valores próximos dos sete dígitos — que a trama precisou deixar de faturar por ora como prejuízo. A maioria segue confiante de que haverá tempo hábil para executar essas negociações.
Como forma de reação e para estimular as conversas “certas” e desejadas nas redes — onde boa parte do buzz em torno da trama se constrói, a Globo decidiu investir pesado. A coluna apurou que cerca de R$ 600 mil já foram realocados emergencialmente para ampliar a presença de Vale Tudo no digital. A emissora fechou acordos com páginas e perfis que cobrem celebridades, TV e memes de cultura pop, para que trechos marcantes dos capítulos desta e da próxima semana sejam repercutidos com naturalidade, estimulando comentários e engajamento, sem parecer publicidade.
Esse movimento faz parte de uma ofensiva para recuperar espaço e fortalecer as conversas em torno da trama, especialmente diante dos temas fortes que serão abordados nesta nova fase do folhetim. No capítulo exibido nesta segunda-feira, dia 21, duas sequências importantes deram o tom: a crise emocional de Heleninha Roitman (Paolla Oliveira), que beira a recaída no alcoolismo, e o infarto de Rubinho (Julio Andrade), pai de Maria de Fátima, que resultará em sua morte. Assim como na versão original de 1988 — quando a Globo conseguiu manter o falecimento em segredo até a exibição —, a cena promete forte comoção e ajudará a impulsionar viradas importantes na história.
Paolla Oliveira e Débora Bloch (Odete Roitman) ganham ainda mais visibilidade nos próximos dias. Ambas terão suas trajetórias na novela exploradas em programas da casa, reportagens em veículos do Grupo Globo e ações específicas de conteúdo. No entanto, por conta da densidade de seus núcleos — que envolvem vício, dor e conflitos morais —, há limitações naturais para que elas sejam associadas a grandes campanhas publicitárias.
Nesse cenário de abrir novas frentes para anunciantes, cresce a expectativa em torno de Taís Araújo, que interpreta Raquel Accioly. A atriz, com forte apelo popular e imagem positiva, é vista como nome ideal para fechar mais ações, até que Bella Campos esteja plenamente reintegrada ao planejamento inicial.
Ainda que a crise tenha ofuscado os esforços iniciais de lançamento do remake, um ponto é inegável: Vale Tudo é o assunto do momento — nas redes sociais e na imprensa. Para o estrategista digital Rafael Moreira, consultado por esta coluna, essa movimentação pode ser, sim, revertida em frutos positivos. “O que hoje parece ruído pode se transformar em combustível. A chave está na forma como se responde. O público respeita quem se posiciona com verdade e reinventa a narrativa. Se a Globo souber conduzir o processo, o impacto pode ser mais poderoso do que qualquer divulgação anteriormente prevista”, analisa.
O fato é que, longe de adotar uma postura passiva, a emissora tem agido com firmeza. Os ajustes feitos até agora — tanto no campo artístico quanto no comercial — mostram um cuidado com a continuidade da obra e o desejo de manutenção de todo o elenco. Profissionais experientes estão à frente das decisões, equilibrando estratégia, sensibilidade e profissionalismo. O momento pede atenção e inteligência, e a Globo aponta estar entregando as duas coisas. A torcida, agora, é para que tudo se resolva, que os ruídos entre os atores se dissolvam e que a arte prevaleça.