Maiara e Maraisa estão com uma dor de cabeça para resolver. Uma fonte revelou para a coluna que já havia toda uma preparação para o lançamento da canção “Boderline” nas plataformas de streaming e a inclusão da canção no repertório dos shows das artistas. Agora, a ordem dada à equipe foi de pausa. A postagem com a música no Instagram foi apagada, mas ainda avaliam a decisão final sobre o que poderá ser feito. O que essa fonte me explicou é que a intenção da dupla nunca foi ofender, mas seguir a mesma lógica de outras canções lançadas por elas, que relatam comportamentos problemáticos em relações, como no hit “Narcisista”, lançado por elas em 2023.
Em sua letra, “Borderline” relata comportamentos instáveis e emocionais em um relacionamento e, logo após a publicação de um vídeo com uma prévia da música, acabou tendo repercussão negativa por parte do público — principalmente por pessoas diagnosticadas com Transtorno de Personalidade Borderline.
A reação mais forte veio de Andressa Urach, que foi diagnosticada com o transtorno e se sentiu pessoalmente ofendida pela letra. Em suas redes sociais, Andressa afirmou que a música “causa um preconceito muito grande” e anunciou que pretende denunciar Maraisa ao Ministério Público por psicofobia, alegando que a canção reforça estigmas graves sobre transtornos mentais. “Todas as pessoas que são border estão se unindo para te denunciar. Sua música é infeliz e aciona gatilhos horríveis em quem precisa de ajuda”, disse ela.
Além de Urach, outros internautas e perfis ligados à saúde mental também manifestaram preocupação, apontando que a música poderia reforçar estereótipos pejorativos sobre quem enfrenta transtornos emocionais.
Diante da polêmica, Maraisa acabou deletando a postagem.
A música, escrita por Maraisa em parceria com Lari Ferreira, Rafa Borges e Renato Sousa, fala sobre um relacionamento abusivo e usa o termo “borderline” para descrever comportamentos instáveis do parceiro, como isolar a pessoa amada, ser extremamente intenso e causar sofrimento no relacionamento. Um trecho do refrão diz:
“Ele é instável, ele é intenso, ele é extremo / E nesses casos todo mundo sofre junto (…) Ele não precisa de você nem do seu sentimento / Só de tratamento.”
Apesar da crítica pesada, é importante pontuar que a música não desmerece a doença e nem afirma que todos os pacientes com transtorno de personalidade borderline sejam como o personagem descrito. A composição relata comportamentos específicos e destaca principalmente a necessidade de tratamento e atenção aos sinais de relacionamentos abusivos — temas extremamente relevantes.
O transtorno borderline é, de fato, um tema sensível, e qualquer abordagem pública sobre ele requer muita responsabilidade. Ainda assim, é preciso refletir: a canção poderia ser ajustada para evitar possíveis interpretações que gerem preconceito? Sim. Mas talvez não seja necessário simplesmente eliminá-la ou censurá-la por completo. Nas redes sociais onde o vídeo da canção ainda circula, é possível encontrar diversos relatos de pessoas borderline se identificando com as situações descritas ou com experiências que viveram ao lado de quem enfrenta o diagnóstico.
A minha sugestão é que artistas e compositores contem com grupos técnicos de avaliação, envolvendo profissionais de saúde mental e especialistas em comunicação, para revisar e orientar sobre possíveis alterações de suas obras antes do lançamento. Mas, infelizmente, vi comentários com ofensas e acusações contra os autores da canção que são desproporcionais ao ocorrido.
Também precisamos refletir se casos como este exigem o cancelamento total de uma obra ou apenas pequenos ajustes para torná-la ainda mais consciente, sem que isso signifique sufocar o trabalho criativo ou a oportunidade de abordar temas sensíveis, mas reais, de forma verdadeira e emotiva.
Afinal, um dos maiores poderes da música — especialmente no sertanejo — está exatamente em tocar o público com relatos de histórias de amor que despertam emoções profundas. Não podemos perder essa conexão tão genuína com a vida real, onde muitas vezes a dor e a superação estão diretamente ligadas. Sem dúvidas, é preciso estabelecer novos métodos no processo criativo de músicas, novelas, programas, mas sem perder a espontaneidade de explorar aquilo se sente. A arte, os artistas e o público agradecem.