Com a saída de William Bonner do Jornal Nacional anunciada para novembro, César Tralli assume posição de destaque no telejornal mais tradicional do país. Mas a história vai além do posto tão cobiçado do jornalismo da Globo.
Nos bastidores, sua esposa, Ticiane Pinheiro, também vem se organizando para uma possível mudança de emissora. Meses atrás, quando foi informado de que seria o escolhido para suceder Bonner, Tralli conversou com a apresentadora sobre a necessidade de a família se mudar para o Rio de Janeiro. Como Ticiane comanda o Hoje em Dia na Record, em São Paulo, um plano começou a ser traçado.
Em setembro do ano passado, a Coluna Matheus Baldi revelou que Ticiane havia iniciado conversas com a Globo. Na época, um projeto no canal pago GNT parecia o mais viável. Discretamente, o casal começou a procurar imóveis de alto padrão no Rio, e a coluna revelou o interesse deles após conversas do casal com corretores especializados.
Ainda assim, sem definição oficial da data de saída de Bonner e entrada de Tralli, Ticiane renovou contrato com a Record por mais um ano. Nos corredores da emissora paulista, ela não esconde o incômodo: seu salário é bem abaixo do elenco estelar da casa de Edir Macedo. Não é de hoje que a comunicadora sente falta de projetos mais grandiosos e desafiadores na emissora Barra Funda, que abram possibilidades de caminhos para voos solo no futuro.
Outro ponto de diálogo entre o casal foi a dupla jornada de Tralli nos últimos quatro anos. Desde 2020, quando Bonner comunicou internamente seu desejo de deixar o JN, a Globo se organizou de maneira estratégica. É um modus operandi que admiro: sob comando de Amauri Soares, Ricardo Villela e a equipe de jornalismo, a emissora mostrou planejamento, pesquisa e inteligência em cada detalhe dessa transição.
Tralli precisou contar com o apoio de Ticiane, da filha e da enteada para sua intensa dedicação ao trabalho. Em junho de 2021, ele foi confirmado como apresentador do Edição das 18h na GloboNews e, logo depois, em 30 de outubro do mesmo ano, assumiu o Jornal Hoje. A estratégia foi clara: fortalecer sua imagem diante do público formador de opinião da TV paga e, ao mesmo tempo, projetá-lo diariamente em rede nacional. Afinal, durante dez anos sua presença foi marcante em São Paulo à frente do SPTV 1ª Edição. Substituições esporádicas de Bonner no JN não eram suficientes para consolidar seu nome no mercado e junto ao público nacional.
A revista Veja garante que a Globo já iniciou pesquisas internas para decidir onde encaixar Ticiane Pinheiro. O lugar mais provável seria o É de Casa, que terá reformulação no começo do próximo ano. Segundo a publicação, Ticiane gostaria de permanecer em um programa diário, mas demonstrou estar aberta a negociar.
Um movimento estratégico de Tralli ajudou bastante na aproximação de Tici da Globo. Em junho do ano passado, sua participação como jurada do Dança dos Famosos foi a oportunidade para um encontro com Bernardo Portugal, Diretor de Talentos Artísticos da emissora. É ele o responsável por descobrir, valorizar e conduzir os principais nomes da maior televisão do país.
Quer saber qual é hoje o maior fogo cruzado para Tici? A apresentadora teme acabar na geladeira da PlimPlim, algo que na Record ela sabe ter pouquíssimo risco de acontecer. Por isso, as negociações caminham em busca de um movimento e de cláusulas contratuais que garantam mais segurança para todos os lados.
A propósito, ela também voltou a emissora carioca no Melhores do Ano do Domingão com Huck acompanhando o marido que estava disputando a premiação. A favor dela pesam carisma, habilidade no ao vivo e boa aceitação no mercado publicitário. Caso a negociação se concretize, com certeza fará falta na Record.
Globo estuda cargo exclusivo para Bonner
Em novembro, chega ao fim uma das trajetórias mais marcantes do jornalismo televisivo brasileiro. William Bonner deixará a bancada do Jornal Nacional após 29 anos. O posto será ocupado por César Tralli, que dividirá a apresentação com Renata Vasconcellos. Bonner seguirá no vídeo à frente do Globo Repórter, ao lado de Sandra Annenberg, conforme comunicado enviado pela emissora.
“William nos procurou há cinco anos, manifestando um desejo de encontrar um outro caminho que desse a ele mais tempo para sua vida pessoal”, explicou Ricardo Villela, diretor de jornalismo, ao jornal O Globo.
O cansaço das longas jornadas e a vontade de estar mais próximo dos filhos, que vivem na França, foram decisivos.
Em outubro do ano passado, a Coluna Matheus Baldi havia contado que, em conversas reservadas, Bonner deixou claro que não queria se afastar totalmente do trabalho.
Ele demonstrou interesse em poder continuar atuando em coberturas especiais e discussões que envolvem temas importantes sobre o futuro do país, desde que com mais flexibilidade. Contamos também com exclusividade que a alta cúpula do canal passou a avaliar até a criação de um cargo inédito para ele. Ainda há uma indefinição sobre este assunto. Nos próximos meses, as tratativas devem ganhar mais ritmo.
Reconhecer esse legado com um posto, na avaliação da chefia, é também uma forma de consolidar a relação de confiança e afeto construída entre o jornalista, a direção do canal e a família Marinho.
A ida para o Globo Repórter surge como solução de equilíbrio: mantém Bonner no vídeo em ritmo mais tranquilo e abre espaço para uma possível nova função executiva. Bonner também deve participar da cobertura das eleições 2026 e seguir mediando os debates presidenciais.
Em almoço com colegas, Bonner resumiu: “Não estou pronto para me aposentar, só estava precisando mudar de ares e ter uma rotina nova.”
Sua saída do JN não é um ponto final, mas uma decisão de mudança de fase.