Os presidentes esquerdistas de Cuba, Venezuela e Bolívia expressaram em Havana sua rejeição às exclusões na Reunião de Cúpula das Américas e destacaram o “enorme poder da consciência” dos países latinos ao enfrentarem os Estados Unidos, durante a reunião de cúpula da Alba.

“Confirmamos nesta semana o enorme poder da consciência latino-americana, com o protesto geral dos governos, países e povos da América Latina ao suposto processo de exclusão” de Cuba, Venezuela e Nicarágua, disse o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Em seu discurso, Maduro criticou o governo de Joe Biden pela “convocação errática” para a reunião de cúpula de Los Angeles e agradeceu ao presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, o qual garantiu que não viajará a Los Angeles se não forem incluídas no encontro todas as nações da região.

Maduro destacou “as vozes firmes e corajosas, como a do presidente mexicano, que se ergueu ao levantar a voz da verdade, da moralidade e da dignidade de todo um continente”.

“Nós nos reunimos para dar o debate, para estabelecer uma posição muito clara sobre a reunião que eles estão convocando em Los Angeles, e bem, uma rejeição firme, contundente e absoluta da visão imperial que busca excluir os povos das Américas”, havia dito Maduro ao chegar ao Palácio da Revolução, sede da reunião de cúpula.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, enviou uma mensagem aos anfitriões do encontro em Los Angeles: “Se querem fazer um encontro de amigos, que o façam, mas não podem chamar de Cúpula das Américas.”

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, os recebeu cedo e descreveu a reunião em Havana em um tuíte como uma “Cúpula de integração, solidariedade e cooperação”. É uma “cúpula humanista. Nossa #Cúpula”, acrescentou o presidente.

– ‘Fiscalizador da democracia’ –

Ao abrir a reunião, o presidente Miguel Díaz-Canel disse que “os Estados Unidos procuram aprovar documentos e conceitos intervencionistas” em Los Angeles, “sem levar em conta os critérios de todos e excluindo os países que têm muito para contribuir”.

O líder cubano ressaltou que, com a política de exclusão, Washington busca controlar o sistema interamericano e “impor um poder fiscalizador da democracia. Mas nem politicamente, nem moralmente, eles têm esse direito. Eles afirmam que são promotores da democracia, mas não são capazes de garantir um espaço plural.”

Os Estados Unidos “vivem um momento de esquizofrenia, achando que podem dominar o planeta”, criticou o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em mensagem remota de Manágua, onde estava acompanhado da mulher e vice-presidente, Rosario Murillo.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, reiterou sua recusa a participar da Reunião de Cúpula das Américas. “Rejeitamos energicamente a exclusão de povos irmãos e reitero minha decisão de não assistir”, declarou, expressando preocupação com o fato de a convocação de Washington ignorar “a diversidade plena, que, longe de nos enfraquecer, deveria ser a nossa fortaleza como continente”.

A reunião de cúpula da Alba acontece depois que Díaz-Canel disse que, “de forma alguma”, participaria da reunião em Los Angeles, e após semanas de tensão devido à relutância do governo dos Estados Unidos em convidar, como país anfitrião, Cuba, Venezuela e Nicarágua para a próxima Cúpula das Américas. Isso provocou a ameaça de outras nações da região de não comparecer à Cúpula das Américas se as três nações forem excluídas.

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, tomou a mesma decisão de não comparecer duas semanas atrás, enquanto os Estados Unidos afirmaram na quinta-feira que de forma alguma convidarão representantes do governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Nesta sexta-feira, legisladores dos Estados Unidos pediram ao seu presidente Joe Biden que reconsidere a exclusão de Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Em uma carta datada de 26 de maio, quinze membros da Câmara Baixa do Congresso, todos do Partido Democrata como Biden, apontaram sua “preocupação de que a omissão dos governos desses três países do encontro regional, previsto para 6 a 10 de junho, “poderia prejudicar a posição dos Estados Unidos na região”.

“Um convite a Cuba, Nicarágua e Venezuela para participar da Cúpula deste ano não é um endosso das visões ou ideologias desses países”, destacaram. “É um convite ao envolvimento a nível regional”.

Desde janeiro, o governo de Joe Biden afirma que o “compromisso” com a democracia seria o fator que decidiria quem seria convidado para a IX Cúpula das Américas, que acontecerá de 6 a 10 de junho.

Para o cientista político cubano Rafael Hernández, a cúpula da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) “pode tentar convocar um espaço alternativo para debater a agenda interamericana sem os Estados Unidos”.

Os presidentes de Cuba, Venezuela e Nicarágua decidiram se reunir em “rejeição à exclusão” porque souberam que os Estados Unidos não mudariam sua postura, afirmou Hernández, alertando que nenhum pronunciamento em Havana será a causa dessa marginalização.

Há apenas cinco meses, os líderes da Alba reafirmaram em uma reunião anterior seu compromisso com a “integração genuinamente latino-americana e caribenha” para enfrentar “as reivindicações de dominação e hegemonia imperialista”. “Esses países têm uma agenda internacional, têm uma comunicação, com diálogo com outros países do hemisfério”, diz Hernández.

A Alba, fórum que nasceu em 2004 em resposta ao projeto fracassado de Washington de criar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), é formado por Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, São Cristóvão e Nevis; Dominica, Antígua e Barbuda, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Granada.