Uma nova tecnologia indicada para investigar alterações no equilíbrio corporal começa a se tornar mais disponível no Brasil. Trata-se da Posturografia Computadorizada, um sistema que permite avaliar quantitativamente as oscilações corporais e identificar disfunções nos sistemas sensoriais que permitem o adequado equilíbrio corporal (visual, vestibular e somatossensorial). Até recentemente oferecido somente por grandes instituições de saúde, como os hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, em São Paulo, o recurso passa a ser ofertado por clínicas de menor porte, o que facilita o diagnóstico para um número maior de pessoas. “O exame apresenta plataformas mais simples para que possa ser usado em clínicas, com uso de vários profissionais, como os da área de educação física, da fisioterapia e os fonoaudiólogos”, explica a educadora física e psicomotricista Christina Ribeiro, sócia fundadora e coordenadora geral da Clínica De olho na Postura, em São Paulo, que passou a oferecer o exame nesta semana.

Toda novidade na área é bem-vinda. É comum que as pessoas com distúrbios de equilíbrio passem anos à procura de tratamento, sem sucesso, uma vez que não obtêm o diagnóstico correto. Em adultos, a prevalência da tontura atinge entre 20% a 30% da população. Em crianças, o problema é igualmente preocupante. Embora as estatísticas indiquem que ela afete 15% das crianças em idade escolar, a taxa pode ser ainda maior entre os pequenos. Com eles, a dificuldade de diagnóstico costuma ser maior. “Eles não conseguem expressar com precisão o que sentem e muitas vezes os sinais passam despercebidos para os pais, professores e pela própria criança”, relata Tanit Ganz Sanchez, professora livre-docente e associada da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Os principais sintomas das tonturas infantis são: mal-estar indefinido, dor de cabeça, náuseas, vômitos, quedas, palidez repentina, cansaço excessivo, desconforto ao calor, tendência a buscar apoios nos objetos ou pessoas, esfregar muito os olhos, dor de barriga sem causa aparente, medo de altura, medo do escuro, desconforto ao andar de carro ou barco, medo de elevador, escusa a alguns brinquedos como gira-gira, montanha russa e balanço, esbarrar em objetos e pessoas e enurese noturna, entre eles.
Em grande parte dos casos, o problema está associado às alterações do sistema vestibular. Elas podem impactar no desempenho escolar e no comportamento da criança causando dificuldades na leitura e escrita, dificuldades em coordenar movimentos, lateralidade indefinida, mau uso da folha, desenhos de figuras humanas com partes do corpo desproporcionais, desalinhamento postural ou desvio cefálico, alterações de comportamento, falta de atenção e concentração, agitação/hiperatividade, choro e irritação sem causa aparente, apatia, ansiedade e fobias. “Os sinais se confundem com transtornos importantes do neurodesenvolvimento infantil, entre eles, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e os Transtornos de Aprendizagem e o Transtorno de Ansiedade”, explica Christina. “Nos casos de alterações vestibulares periféricas, a reabilitação deve incluir necessariamente estimulações das vias sensoriais que podem estar com algum déficit, treinos da verticalidade, do equilíbrio e da estabilidade postural”, afirma Cássio Siqueira, mestre e doutor em Ciências da Reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP.

Os sintomas devem ser avaliados por um otorrinolaringologista. Existem casos de tontura – na infância ou em outras faixas etárias – provocados por erros de alimentação que podem ser facilmente revertidos após o diagnóstico correto, como o jejum prolongado, a ingesta frequente de doces e carboidratos simples (pães e massas), além de abusos de cafeína (presente em café, energéticos, chocolates, refrigerantes, chá preto ou chá mate). Em vista da multiplicidade de causas, a anamnese (entrevista detalhada do profissional com o paciente), o exame físico, exames de sangue e a posturografia dinâmica são auxiliares importantes no diagnóstico correto.

O tratamento varia em cada caso porque o sucesso depende da personalização para cada causa encontrada na criança. Pode incluir atividades físicas, reabilitação vestibular e reeducação alimentar. Em raros casos na infância, pode-se considerar o uso de medicamentos sedativos do labirinto (para as crises de tontura) ou vasodilatores (para manutenção após o controle da crise), preferencialmente integrando o trabalho de uma equipe multidisciplinar.

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