Bolsonaro escolheu começar sua campanha eleitoral rememorando um dos episódios mais lamentáveis da história política brasileira. Em Juiz de Fora, relembrou a facada que recebeu em 2018. Dentro da lógica tortuosa de Bolsonaro, vale a pena o simbolismo. O episódio quase lhe custou a vida, mas garantiu a cadeira de presidente, já que o transformou em mártir.

No embate de quatro anos atrás, o atentado evitou que ele participasse de debates, fez calar os adversários (muitos suspenderam a campanha e lhe prestaram solidariedade), aumentou a massificação de sua mensagem e o transformou em notícia obrigatória 24 horas por dia num momento crucial.

O presidente mostrou na terça, 16, na prática, as dificuldades de seu discurso. Ao mesmo tempo em que precisa cativar os apoiadores mais radicais, pregando para convertidos, não consegue superar a barreira em torno de 35% no seu potencial eleitoral. O resultado da pesquisa do Ipec, divulgado um dia antes, foi um balde de água fria para a sua campanha.

Lula lidera com 44% e o presidente tem 32% no primeiro turno. Foi o primeiro levantamento nacional do sucessor do antigo Ibope, que reforça a grande distância dos dois líderes na disputa e a dificuldade de o presidente superar a alta rejeição ao seu nome, de 46%. Num eventual segundo turno, Bolsonaro só conseguiria agregar cerca de 3% (chegando aos 35%). Além disso, desde a redemocratização, nunca um presidente enfrentou uma reeleição em condições tão adversas.

Tudo indica que a guerra já está perdida para o capitão. Para superar o seu teto, teria que se aproximar do centro, da classe média e daqueles que rejeitam suas tentativas de golpe. Não vai conseguir isso com o seu discurso de Juiz de Fora, quando disse que o País caminha para o socialismo e que ele fez o “milagre” de criar um governo ético e sem pressões partidárias.

Quem acompanha a imprensa e se informa além das bolhas bolsonaristas sabe que o presidente se vendeu para o Centrão e que o fisiologismo nunca esteve tão entranhado na máquina, abastecido inclusive orçamentos secretos.

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Os pobres, recém-descobertos por Bolsonaro, também não estão sendo seduzidos por seu encanto populista. A enxurrada de benesses eleitoreiras não trouxe votos em número suficiente, se é que trouxe algum (o Datafolha do próximo dia 18 poderá confirmar isso). O dilema da campanha bolsonarista é mais do que nunca “normalizar” sua imagem, mostrando-o como um político de estatura e um governante competente, ou então radicalizar sua cruzada antidemocrática e a ameaça de não reconhecer as eleições. A aposta é de que optará pelo confronto, como sempre fez – e como deverá voltar a agir no próximo Sete de Setembro.


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