O Cruzeiro conquistou o título da Copa do Brasil deste ano e realiza boa campanha nesta reta final do Campeonato Brasileiro, mas o bom momento vivido dentro de campo está bem longe de ser refletido na situação política e financeira do clube. Muito pelo contrário, o time atravessa grave crise nestes aspectos e a mesma ganhou um novo capítulo polêmico nesta quarta-feira.

Depois de mais um mês em silêncio após deixar o Cruzeiro, Bruno Vicintin, ex-vice-presidente de futebol do clube, resolveu convocar uma entrevista coletiva na qual acusou Itair Machado, o seu futuro sucessor no cargo, de tê-lo ameaçado de morte.

A acusação ocorreu de forma surpreendente, pois a conversa com a imprensa inicialmente seria apenas para se posicionar em relação ao pedido feito pelo conselheiro Guilherme Oliveira Cruz para que as contas do Cruzeiro sejam investigadas pelo Conselho Deliberativo do clube. O pedido ocorreu por causa do aumento no número de dívidas acumuladas na gestão do atual presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares, que deixará o cargo ao final deste ano.

Entretanto, esse tema ficou em um segundo plano após Vicintin acusar Machado de tê-lo ameaçado de morte durante uma conversa mediada pelo atual vice-presidente do clube, José Francisco Lemos. O ex-vice cruzeirense ainda disse que Ronaldo Granata, segundo vice-presidente da futura diretoria do clube, afirmou a ele que também foi alvo de ameaças por parte de Machado.

Em eleição ocorrida em outubro passado, Wagner Pires de Sá foi eleito novo presidente do Cruzeiro para o triênio 2018/2020, mas a chapa vencedora acabou sofrendo um racha entre os seus membros um dia depois do pleito. O conflito motivou Vicintin a deixar o seu cargo e, no dia seguinte, o ex-jogador Paulo César Tinga seguiu os seus passos e comunicou que sairá do posto de gerente de futebol do clube mineiro no fim deste ano.

Eleito presidente como candidato da situação, Wagner Pires, aliado de Machado, depois acabou rompendo com Gilvan de Pinho Tavares, o que desatou a sequência de mudanças de dirigentes no clube. Vicintin, por sua vez, optou por deixar o Cruzeiro e recusar o convite para seguir na diretoria em 2018 após discordar da nomeação de Machado para ocupar um cargo no departamento de futebol.

Nesta quarta, Vicintin afirmou que foi ameaçado de morte por Itair durante uma conversa telefônica que teria ocorrido em uma reunião da cúpula cruzeirense no último dia 13 de novembro. Na ocasião, o ex-vice de futebol já havia deixado o clube há mais de um mês, mas participou do encontro após ser convocado pelo conselheiro Gustavo Gatti e depois de insistentes pedidos pela sua presença, segundo disse Vicintin.

“Chegando lá, para encurtar a história, não lembro mais por qual motivo, o senhor José Francisco Lemos ligou para o Itair Machado, que atendeu e disse as seguintes palavras no telefone: ‘Doutor Lemos, eu odeio o Bruno Vicintin e queria que desse recado ao mesmo. Que caso ele não pare de falar de mim na internet, eu vou matar ele’. O Lemos repetiu o que ele tinha falado, e eu falei para o doutor Lemos: ‘Eu escutei bem? Estou sendo ameaçado de morte?’. O Lemos disse que só estava repetindo o que havia sido falado”, afirmou o ex-vice do Cruzeiro na entrevista coletiva desta quarta.

Em seguida, Vicintin enumerou todos os dirigentes que estariam presentes na reunião e que teriam sido testemunhas desta ameaça de morte, mas ele não apresentou provas para comprovar que a mesma, de fato, ocorreu. “Estavam na mesa e podem confirmar isso: o doutor Gilvan de Pinho Tavares, presidente do clube, o Antônio Assunção, superintendente da base, o Gustavo Gatti, secretário do conselho, José Dalai, segundo vice do conselho, e Ronaldo Granata, segundo vice-presidente da chapa (vencedora da eleição)”, completou.

O ex-vice do Cruzeiro ainda disse que só não foi prestar boletim de ocorrência na delegacia naquela ocasião, para relatar a suposta ameaça, porque foi convencido por membros do clube que participaram daquela reunião a não acionar a polícia. “Pediram que eu esfriasse a cabeça, pois isso seria ruim para a imagem do clube. Eu posso ter errado de não ter feito o boletim na hora. Mas eu não sou obrigado juridicamente a fazer isso. Às vezes é melhor tentar esfriar a cabeça, porém, (a situação) não mudou. Eu deveria ter feito na hora”, admitiu.

MACHADO NEGA AMEAÇA – Por meio de nota oficial divulgada pouco depois da entrevista coletiva de Vicintin, Itair Machado negou que tenha acusado o ex-vice de futebol de morte e cobrou uma série de explicações ao desafeto sobre a atual situação do clube, que, segundo o futuro vice de futebol, vive um “desastre financeiro e administrativo”.

Confira a íntegra da nota oficial do dirigente:

Com muita surpresa, acabo de tomar conhecimento da entrevista coletiva do Sr. Bruno Vicintin, ex-Vice Presidente de Futebol do Cruzeiro Esporte Clube, em que me acusa, de maneira leviana e irresponsável, ter ameaçado a sua integridade física, por razões e motivações, entretanto, não explicadas. Não obstante, rechaço e nego, com veemência, a injusta acusação, da qual o acusador, atualmente um mero “investigado” pelo Conselho Deliberativo do Cruzeiro EC, por supostas irregularidades praticadas durante sua gestão no Clube, responderá oportunamente na justiça pelas aleivosias gratuitas e injustificadas.

Mas, o que mais surpreende, não são as acusações sem provas ou a inexistência de provocação que justificasse as ofensas, mas o fato de que a entrevista coletiva, que, ao que se sabe, deveria servir unicamente para que o Sr. Bruno Vicintin pudesse explicar aos Conselheiros do Cruzeiro, aos seus milhões de torcedores, aos milhares de associados, à sociedade, ao Ministério Público e à imprensa, por que durante sua gestão à frente do Departamento de Futebol do clube, deixou que o Cruzeiro se tornasse devedor de R$ 50 milhões em processos da Fifa; por que onerou a folha de pagamento do futebol do clube de R$ 74 milhões por ano em 2011 para R$ 176 milhões em 2016; por que permitiu que a Divida Geral do Clube partisse de R$ 120 milhões em 2011 para absurdos R$ 363 milhões em 2016; por que a dívida tributária parcelada (impostos não pagos), saltou de R$ 44 milhões em 2011 para R$ 174 milhões em 2016 (são todos dados públicos e constam nos Balanços divulgados pelo clube). O que sua gestão fez com os R$ 93 milhões recebidos como “luvas” do contrato de televisionamento, pagos ao clube em duas parcelas em dezembro/2016 e março/2017 (sem contar os valores pagos regularmente)? Não há resposta, embora o mereçam o Cruzeiro, seu conselho e sua torcida.

Pensei, ainda, que fosse explicar por que um único agente de jogadores conseguiu captar, durante seu período da sua gestão, aproximadamente 12 (doze) atletas do futebol de base, retirando do clube o direito sobre seus jovens atletas, em notório prejuízo ao Clube, além de outros que serão apurados. Pensei, finalmente, que fosse explicar as estórias e as justificativas das contratações de atletas como Sanchez Miño, do Arrascaeta, do Pisano, Ezequiel e Eduardo, do Caicedo, Riascos, do Ábila, do Edmilson, da mesada do Paulo Bento… e tantos outros. Os milhões e milhões despendidos… Houve provisão e orçamento para tamanho desperdício? Também sem resposta.

Se não explicou, como investigado que é, deixemos para o Conselho Deliberativo e para a Comissão de Ética do Clube a devida apuração, para que um dia, em breve, os Conselheiros, os associados e sua imensa torcida, possam fazer o justo julgamento.

A verdade é que o Cruzeiro EC foi entregue às mãos de pessoa que tem demonstrado diariamente sua inabilidade e imaturidade, além de incapacidade de lidar com as adversidades, de assumir dignamente os atos que pratica, explicá-los para quem precisa ouvir. De maneira sorrateira e vil, utilizando-se de meio publico para ofender, compatível com aqueles que militam nas sombras, tudo leva a crer que renunciou à sua condição de senhor das decisões do Departamento de Futebol do Clube para não ter que explicar por seus atos, atribuindo somente ao presidente do clube, sozinho, o ônus de responder e explicar o desastre financeiro e administrativo que se encontra hoje o Cruzeiro EC.

A entrevista, por tudo que consta, soa meramente oportunista, cujo único objetivo somente pode ser creditado a desviar o foco daquilo que realmente importa: as explicações.

O Sr. Bruno Vicintin já teve sua oportunidade e saiu por que achou melhor. No Cruzeiro não pode mais haver pessoas que se julgam proprietárias de cargos ou funções. Agora permita que o Cruzeiro avance. Permita, enfim, que o Cruzeiro tenha tranquilidade para seguir em frente, com as pessoas que foram democraticamente escolhidas, seja ou não do seu agrado.

Com todas essas considerações, consigno que o momento agora deve ser de paz. O clube merece e precisa de paz para, com nova diretoria, que não tem compromissos políticos, implementar um projeto novo, de reunificação, de reconstrução de um clube dilacerado administrativa e financeiramente.

A tarefa da nova diretoria é árdua, senão gigantesca, mas digna do tamanho do nosso grande Cruzeiro Esporte Clube.