O ex-primeiro-ministro grego Alexis Tsipras publicou nesta segunda-feira (24) suas memórias, um livro intitulado ‘Ithaki’ (Ítaca) que revive o trauma da crise da dívida de dez anos atrás e alimenta as expectativas sobre seu retorno à política.
Tsipras, de 51 anos, relembra sua chegada ao poder em 2015 como líder da coalizão de esquerda Syriza, que levantou a bandeira contra as políticas de austeridade, mas acabou obrigado a negociar um resgate multibilionário com a União Europeia e o FMI.
O ex-dirigente relata que sentiu a “obrigação” de contar os eventos, tal como os percebeu no momento, para retratar “as condições, os conflitos, os dilemas e os custos”.
“Já é hora de que minha voz seja ouvida”, declarou em um comunicado este mês.
Nas 730 páginas, Tsipras relata bastidores como a difícil relação com o então ministro das Finanças, Yanis Varoufakis.
Tsipras afirma que nomeou o carismático economista para mostrar uma forte “determinação”, mas que seu subordinado acabou se tornando uma “celebridade” e se mostrou insuportável inclusive para seus próprios colegas.
Em suas memórias, ele também detalha conversas com líderes mundiais como o presidente americano, Barack Obama, a ex-chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente russo, Vladimir Putin.
Tsipras relatou que Merkel ficou “sem palavras” após sua decisão de organizar um referendo sobre o acordo para um resgate da UE e do FMI. Obama tentou orientá-lo, enquanto Putin rejeitou a oferta de comprar títulos da dívida grega e afirmou que preferia dar dinheiro a um orfanato.
Tsipras insiste que o referendo, no qual os gregos votaram majoritariamente para rejeitar novos cortes, foi uma ferramenta para evitar uma “humilhação”, mas também admite que alguns integrantes de seu partido tinham visões pouco realistas.
Tsipras renunciou ao cargo de primeiro-ministro após perder as eleições gerais de 2019 para o partido conservador Nova Democracia, de Kyriakos Mitsotakis, atual primeiro-ministro.
Em 2023, ele deixou a liderança do Syriza após um duro revés eleitoral e depois renunciou também ao cargo de deputado. Após sua saída, o partido sofreu múltiplas fragmentações e atualmente está em segundo plano na política grega.
No ano passado, Tsipras criou um instituto e acredita-se que esteja planejando a criação de um novo movimento ou partido político, que, segundo pesquisas, teria o apoio de cerca de 20% dos eleitores.
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