O ex-presidente Nicolas Sarkozy será julgado nesta segunda-feira (23) em Paris por corrupção e tráfico de influência no chamado “caso das escutas”, tornando-se assim o primeiro ex-chefe de Estado a ser julgado por essa razão em 60 anos.

O ex-presidente de direita (2007-2012) de 65 anos, que nega as acusações, prometeu que seria “combativo” no julgamento.

Antes de Sarkozy, outro ex-presidente francês, Jacques Chirac (1995-2007), seu antecessor e durante anos seu mentor político, foi condenado a dois anos de prisão por desvio de fundos, com direito a suspensão da pena, mas sua saúde o impediu de comparecer ao tribunal.

O caso das escutas telefônicas tem origem em outro caso que ameaça Nicolas Sarkozy: suspeitas de que ele recebeu financiamento do regime líbio de Muammar Gaddafi durante a campanha presidencial de 2007 que o elegeu.

A justiça decidiu grampear o telefone do ex-governante e, assim, descobriu-se que ele tinha uma linha secreta na qual usava o pseudônimo de “Paul Bismuth”.

Segundo os investigadores, algumas de suas conversas revelaram a existência de um pacto de corrupção. Junto com seu advogado, Thierry Herzog, Sarkozy teria tentado obter informações secretas de outro processo por meio do juiz Gilbert Azibert.

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Azibert também teria tentado influenciar seus colegas. Em troca, Sarkozy teria prometido ao magistrado ajudá-lo a conseguir um cargo altamente cobiçado no Conselho de Estado de Mônaco.

Se condenado, o ex-presidente pode pegar uma pena de até 10 anos de prisão e multa máxima de um milhão de euros. Herzog e Azibert serão julgados ao lado de Sarkozy, também acusados de corrupção e tráfico de influência.

– “Não sou corrupto” –

Azibert já era considerado um dos principais candidatos ao cargo de Mônaco, mas “se você der um empurrão, é sempre melhor”, disse Herzog a Sarkozy em uma ligação no início de 2014. “Vou fazê-lo subir”, respondeu Sarkozy, de acordo com a acusação.

Mas, alguns dias depois, Sarkozy disse a seu advogado que não “abordaria” as autoridades de Mônaco. Sinal, segundo os procuradores, de que os dois ficaram sabendo que a linha estava grampeada.

O ex-chefe de Estado se defendeu novamente na sexta-feira no canal de televisão BFM: “O senhor Azibert nunca obteve um cargo em Mônaco. O Palácio de Mônaco publicou uma declaração dizendo que ‘Nicolas Sarkozy não interveio’ e todos os magistrados interrogados disseram que o senhor Azibert não interveio”.

O crime de corrupção pode consistir também em simples ofertas ou promessas.

“Vou me explicar ao tribunal porque sempre enfrentei minhas obrigações”, acrescentou. E garantiu: “Não sou corrupto.”

Sarkozy, advogado de formação, acusa há muito tempo os tribunais franceses de promoverem uma vingança contra ele. Seus diversos problemas jurídicos dificultaram seu retorno à política.


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