O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse, nesta quarta-feira (10), que seu chamado a juízo na véspera por suposta manipulação de testemunhas corresponde a “vinganças políticas”, em meio à tempestade desatada pelos problemas judiciais que o envolvem.

“Este juízo é antecipado por perseguições políticas, animosidades pessoais, vinganças políticas, sem provas que nos permitam inferir que eu estava tentando subornar [testemunhas] ou enganar a Justiça”, disse o ex-presidente (2002-2010) nesta quarta-feira, considerado um dos políticos mais influentes deste século no país.

O ex-presidente de direita acabou envolvido em uma reviravolta inesperada da justiça “como suposto autor dos crimes de suborno de testemunhas e fraude processual”, segundo a acusação.

Em 2012, quando era congressista, apresentou uma denúncia contra o senador de esquerda Iván Cepeda por suposta conspiração apoiada em falsos testemunhos para o vincular, bem como seu irmão Santigao Uribe, a grupos paramilitares de extrema direita.

Mas a Suprema Corte absteve-se de processar Cepeda e decidiu abrir a investigação contra Uribe em 2018 sob a mesma suspeita: manipulação de testemunhas contra seu opositor.

Uribe tentou prejudicar Cepeda com a acusação de que ele havia contatado ex-paramilitares presos para envolvê-lo em atividades criminosas.

Em agosto de 2020, os juízes ordenaram a prisão domiciliar de Uribe enquanto sua investigação avançava. Mas o político astuto renunciou ao Senado e o caso caiu nas mãos do Ministério Público, que suspendeu a ordem de captura. Contudo, após um longo processo, anunciou na terça o julgamento.

Antes que chegue esse momento, o ex-presidente terá uma audiência preparatória e outra de acusação, que, segundo o advogado de uma das testemunhas, começa em 17 de maio.

Devido ao “congestionamento” de casos no sistema judicial, o processo poderia levar “tranquilamente entre dois e três anos”, explicou à AFP o advogado criminalista Francisco Bernate.

Sua defesa afirma que o caso pode prescrever em 9 de outubro de 2025 se não houver uma decisão antes disso.

– Vingança paramilitar –

Baseado em testemunhos de ex-paramilitares, Cepeda denunciou durante mais de uma década os supostos vínculos de Uribe com a criação de um grupo de autodefesa chamado Bloque Metro. O ex-presidente o processou, dando início a um dos processos mais notórios da história do país.

Nesta quarta, o ex-presidente insistiu em sua inocência e denunciou vícios no processo, que pode lhe render uma pena de até oito anos de prisão.

Segundo Uribe, alguns ex-paramilitares admitiram que, por trás de seus testemunhos havia um desejo de “vingança”. Em 2006, cerca de 30 mil membros desses esquadrões se desmobilizaram após um acordo com seu governo para se submeterem a uma jurisdição especial.

Mas o então mandatário extraditou, de surpresa, vários chefes paramilitares aos Estados Unidos, sob a acusação de que continuaram traficando cocaína após deixarem as armas.

Organizações de vítimas e defensores dos direitos humanos exigem seu retorno à Colômbia para que esclareçam seus múltiplos crimes, assim como os vínculos com políticos e empresários.

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