O ex-presidente da CBF José Maria Marin foi sentenciado nesta quarta-feira a quatro anos de prisão por uma juíza federal de Nova York, que o acusou de ser “um câncer” que corrompeu o esporte no Brasil e no mundo.

Marin, de 86 anos, se tornou o primeiro grande mandatário do futebol mundial a ser condenado e preso nos Estados Unidos em meio ao escândalo de corrupção na Fifa.

“Marin diz que ama o esporte, mas ele e seus conspiradores foram o mesmo câncer no esporte que diz amar”, declarou a juíza federal do Brooklyn Pamela Chen ao anunciar a sentença.

Quando assumiu a chefia da CBF e começou a aceitar propinas, a partir de 2012, Marin tinha 79 anos e já era milionário, lembrou o procurador Sam Nitze.

“Era um advogado, foi um servidor público, alguém que tinha que ter atuado melhor. Poderia e deveria ter dito não e exposto a cultura da corrupção, mas ao invés disso estendeu a mão e se uniu ao jogo”, continuou a juíza Chen.

O ex-presidente da CBF recebeu 3,35 milhões de dólares em propinas de empresas de marketing esportivo em troca da concessão de contratos para a transmissão das copas Libertadores, América e do Brasil, além de ter “buscado obter mais de 10 milhões de dólares em subornos em três anos, abusando da confiança das federações de futebol a quem deveria servir”, explicou Chen.

Além de servir quatro anos de prisão, Marin também foi condenado a pagar 1,2 milhão de dólares de multa e devolver os 3,35 milhões em propinas que recebeu.

Marin compareceu ao julgamento vestindo um traje de presidiário bege em vez do elegante terno que usou durante as sete semanas de julgamento, com o cabelo mais longo e a postura mais curvada.

– Descontrole e sentença –

O ex-mandatário não quis pedir perdão nem mostrou remorso, mas afirmou lamentar que seus atos tenham prejudicado algumas pessoas ou entidades.

E, ao falar da esposa Neusa, com quem é casado há quase 60 anos e que estava presente durante o julgamento, Marin não conteve as lágrimas e se descontrolou.

Seus advogados e a juíza tentaram impedir que prosseguisse, mas o ex-dirigente continuou: “A herança de minha mulher e da minha família, não tirem a sobrevivência dela!”, gritou, em referência às multas e restituições que terá que pagar.

A audiência precisou ser interrompida por cerca de 10 minutos, quando Marin deixou a sala para se acalmar, voltando em seguida para concluir sua defesa.

Marin afirmou que o futebol sempre foi um dos grandes amores de sua vida, mas, desde que foi preso em 2015 na Suíça, se tornou “um pesadelo”, tornando a vida de sua família num “inferno”.

Marin foi um dos dirigentes da Fifa detidos no dia 27 de maio de 2015 em um hotel de luxo de Zurique pela polícia suíça, a pedido da justiça dos Estados Unidos.

Depois de passar cinco meses em uma prisão suíça e ser extraditado aos Estados Unidos, pagou uma fiança de 15 milhões de dólares e passou dois anos em prisão domiciliar, em seu apartamento na luxuosa Trump Tower na Quinta Avenida de Nova York, de onde saía apenas duas vezes por semana para comparecer à missa.

Marin foi preso imediatamente em Nova York após sua condenação, anunciada em 22 de dezembro de 2017. Após sete semanas de julgamento no tribunal do Brooklyn, um júri popular o considerou culpado de seis das sete acusações de associação criminosa, lavagem de dinheiro e fraude bancária.

Em meio ao escândalo de corrupção na Fifa, o governo americano acusou 42 pessoas e empresas esportivas de 92 delitos e de aceitar mais de 200 milhões de dólares em propinas.

Marin, Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol, e Manuel Burga, ex-presidente da Federação Peruana, foram os únicos que se declararam inocentes.

Burga foi absolvido, enquanto Napout receberá sua sentença em 29 de agosto.