Kosovo festejou com seu “salvador”, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, nesta quarta-feira (12), os 20 anos da intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que anunciou o fim da guerra com a Sérvia.

“Bem-vindo de volta!”, afirmou o presidente de Kosovo, Hashim Thaçi, ao homem que lançou os ataques ocidentais contra a Sérvia de Slobodan Milosevic.

Depois de três meses de bombardeios feitos pela Otan sem mandato da ONU, o homem forte de Belgrado ordenou, em 10 de junho de 1999, a retirada de suas tropas. No dia 12, a Otan começou a se mobilizar em Kosovo, posta sob proteção internacional.

“Eu quero bem a este país, e isso ficará como uma das grandes honras da minha vida: ter estado a seu lado contra a limpeza étnica e pela liberdade”, disse Bill Clinton, diante de uma multidão em Pristina, onde tem uma estátua e uma avenida com seu nome.

“Foi o dia mais lindo na história dos albaneses de Kosovo. Fomos expulsos das nossas casas, bombardeados, maltratados, nos arruinaram durante anos nos privando de trabalho”, lembrou Adnan Shuki, um aposentado de 67 anos que se aproximou pra ouvir o ex-presidente.

Marcado pelas atrocidades e por uma campanha de limpeza étnica orquestrada por Belgrado e que deixou milhares de refugiados, este conflito entre as forças sérvias e os rebeldes separatistas kosovar-albaneses (1998-99) custou a vida de mais de 13.000 pessoas (11.000 albaneses, 2.000 sérvios e centenas de ciganos).

Passados 20 anos, a amargura não desapareceu em Belgrado.

“Os 19 países mais poderosos atacaram um país pequeno apegado à liberdade. Nos causaram enormes danos, dos quais ainda estamos nos recuperando”, comentou o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, esta semana.

Segundo as estimativas, pelo menos 120.000 sérvios continuam vivendo em Kosovo.

Um deles, Srdjan, de 38 anos, que vive na cidade dividida de Mitrovica (norte), ironizou esta “celebração de um Exército estrangeiro” e a “ilusão de uma sociedade multiétnica” que as autoridades de Pristina dizem estar tentando construir.

“Eles só têm que viver a vida deles, e nós viveremos a nossa”, afirmou Dragana, de 30 anos.

Em sua Constituição, a Sérvia mantém sua tutela sobre Kosovo, já que nunca reconheceu a independência proclamada em 2008.