Aos 45 anos, o ex-lateral-direito Baiano é auxiliar-técnico da equipe sub-17 do Red Bull Bragantino. Sua tarefa atualmente é repassar tudo o que aprendeu como atleta para formar novos jogadores em Bragança Paulista, em uma atividade “mais gratificante e mais cansativa”, segundo ele mesmo define. Entre os clubes pelos quais atuou estão Palmeiras e Boca Juniors, adversários desta quinta-feira, em La Bombonera, pela semifinal da Copa Libertadores, às 21h30.

Em entrevista ao Estadão, Baiano reviveu sua trajetória no Boca Juniors e também no Palmeiras, analisou o confronto em Buenos Aires, o primeiro da série, e deu uma dica para o time de Abel Ferreira, o qual julga ter uma ligeira vantagem no duelo valendo vaga para a final da Libertadores, a ser disputada no Maracanã, em 4 de novembro.

“Sou um privilegiado por ter atuado nos dois times. O jogo será muito difícil por se tratar de Libertadores. O Boca é bem qualificado, mas o Palmeiras, pelo entrosamento, momento e característica de jogo, leva uma pequena vantagem. Os atletas estão há mais tempo juntos e sabem o que o treinador gosta”, declarou.

No Boca e no Palmeiras, Baiano teve como missão substituir grandes nomes da lateral. No clube alviverde, entrou no lugar do paraguaio Arce, hoje técnico do Olimpia, em seu país. Na equipe argentina, foi a melhor peça que a diretoria do Boca encontrou para a vaga de Hugo Ibarra, que foi treinador do time até o início desta temporada.

“Cheguei ao Palmeiras na Série B, em 2003, e classificamos em 2004 para a Libertadores. Fui para o Boca em 2005, pelas mãos do então presidente Maurício Macri, fazendo gol contra o Pachuca e Sporting Cristal na Libertadores. Tive o privilégio de marcar um gol em La Bombonera, um sentimento único. São poucos os brasileiros que conseguiram isso. Fiquei mais tempo no Palmeiras, mas fui feliz no Boca também. Foi a minha performance no Palmeiras que abriu as portas no Boca”, afirmou Baiano.

PALMEIRAS RECEBE DICA DE BAIANO

Baiano concorda que há algo de diferente na casa xeneize se comparada a outros estádios em que já bateu bola. “É diferente. Já joguei no Santiago Bernabéu, Camp Nou, Maracanã, Vila Belmiro… mas como La Bombonera não tem igual. Treme realmente, principalmente em Libertadores, uma competição que o Boca sabe jogar e a torcida gosta.”

Observando os adversários desta noite, Baiano entende que a longevidade do trabalho que Abel Ferreira desenvolve no Palmeiras faz com que o time brasileiro seja favorito. O ex-lateral ainda pontuou que vê o português em um caminho muito semelhante ao do lendário Carlos Bianchi, dono de três Libertadores como técnico do Boca. “Uma vantagem que o Palmeiras tem é que o Abel conseguiu fazer o que o Bianchi fez no Boca. Ser treinador é saber lidar com as vaidades e cuidar dos atletas que não são titulares”, explicou, antes de deixar sua dica para o treinador do Palmeiras.

Minha dica para o Abel é “se defender atacando”. O Palmeiras, principalmente nos 15 primeiros minutos iniciais, precisa estar atento para a pressão que o Boca fará. Não pode ficar só defendendo, tem de dar algumas espetadas no Boca, especialmente nas jogadas de lado e velocidade, que são pontos fortes do Palmeiras. Na oportunidade que tiver, tem de marcar.

Nos últimos jogos, com a ausência de Dudu, lesionado, Abel retomou a formação com Mayke na ponta direita e Marcos Rocha como lateral-direito. Apesar das críticas que a escalação vem recebendo, Baiano enxerga pontos positivos na adaptação desse estilo. “Vivi isso no Palmeiras, muitas vezes fiz isso com o Correa. A parte boa é que o lateral avançado não tem tanta obrigação de voltar até sua área para defender e confunde a marcação rival, porque são dois laterais que sabem jogar bem atacando e defendendo. São exímios laterais.”

BAIANO VIVEU AUGE NO BOCA, MAS DEIXOU EQUIPE APÓS REPRESÁLIA DE ARGENTINOS

Baiano guarda do Boca Juniors boas recordações e a certeza de que sua forma de jogar combinou com as características do time argentino. “Para mim não foi difícil jogar no Boca. O futebol favorecia meu estilo, pela minha garra e transpiração, caí na graça da torcida. A torcida do Boca não exige que você dê uma caneta, mas ela não quer que você ‘pipoque’ na dividida. Tive a felicidade de ter o Palermo de centroavante, a dificuldade era que o Guillermo Barros Schelotto dizia que ele que deveria dar assistência para o Palermo. Jogar no Boca foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”, contou.

No time argentino, Baiano jogou entre janeiro e agosto de 2005. Sua saída da equipe se deu após o caso de racismo sofrido pelo brasileiro Grafite, então atleta do São Paulo. O argentino Leandro Desábato, do Quilmes, proferiu uma ofensa racista contra o atacante e recebeu ordem de prisão ainda no gramado do Morumbi, ficando detido por dois dias em São Paulo.

“Saí do Boca em agosto por um problema que não era meu. Foi a questão do Grafite com o Desábato no Morumbi. Tinha duas coincidências: sou preto e brasileiro. Então, sofri uma represália dos jogadores argentinos de forma geral, que ficaram indignados. Até aquele momento não tinha problema nenhum de racismo”, relatou Baiano.