Os riffs ainda são os mesmos. A maneira delicada e técnica de tocar também. Richie Sambora, um dos guitarristas mais virtuosos da história do rock, aprendeu, como poucos, ao longo dos anos, a criar solos que beiram a perfeição. E isso não inclui apenas velocidade, mas instinto e faro de quem entende da coisa. Em meados de 2013, no entanto, supostos abusos com drogas e álcool, além de brigas internas, “obrigaram” Jon Bon Jovi a dar um ultimato a Richie. Resultado: ele foi afastado da banda na metade da turnê Because We Can. Pouco tempo depois, já em 2014, acabou deixando oficialmente o grupo. “Sair do Bon Jovi foi uma decisão pessoal e familiar. Pensei em minha filha, Ava Elizabeth, hoje com 18 anos. Eu não a vi crescer. Passei muito tempo na estrada nas últimas três décadas. Estava exausto. É como um casamento longo que chega ao fim pelo desgaste. Acabou. Está tudo bem, mas eu e Jon seguimos caminhos diferentes. Não há chances de uma volta. Não agora, pelo menos”, diz Richie em entrevista ao Estado por telefone.

Atração do Samsung Best Of Blues Festival, o músico desembarca em São Paulo para duas apresentações nesta semana. A primeira delas será na sexta-feira, 8, no Tom Brasil, e a outra, com entrada gratuita, no domingo, 10, na área externa do Auditório Ibirapuera. Ele vai tocar ao lado da namorada, a também guitarrista Orianthi Panagaris. Richie e a australiana se conheceram no fim de 2013, durante uma festa de réveillon. Conectados pela música, combinaram alguns ensaios e, na sequência, a afinidade entre os dois só cresceu. “Orianthi me chamou a atenção desde que a vi pela primeira vez. É uma guitarrista formidável. Além da técnica apurada, ela toca com o coração, algo essencial para um músico. Estar ao seu lado é um aprendizado constante”, afirma Richie.

Orianthi Panagaris, 31, começou a tocar guitarra aos 6 anos. Aos 18, sua vida mudou drasticamente quando se apresentou ao lado de Carlos Santana em um show na Austrália. A instrumentista também tocou com a estrela do pop Carrie Underwood e integrou a banda de Michael Jackson. Em 2011, tornou-se a principal guitarrista do Alice Cooper, participando de duas turnês mundiais. “Tenho uma boa rodagem na música. Fiz muita coisa legal, mas ainda há uma longa jornada. Tocar com o Richie me faz acreditar nisso. Ele é apegado aos detalhes e isso muda tudo. Um guitarrista precisa ser criterioso. Por isso, nos identificamos tanto”, revela Orianthi, também por telefone.

A dupla deve lançar até dezembro o primeiro disco. Darryl Jones (baixista dos Rolling Stones) e William Calhoun (baterista do Living Colour) já estão confirmados. Stevie Wonder e Buddy Guy também são cotados para participar do projeto. “Temos gravado com calma. Não adianta acelerar o processo. Vai sair no tempo certo. Sempre foi assim na minha vida”, revela Richie.

Perto de completar 57 anos (o músico faz aniversário no dia 11), Sambora tem uma carreira solo consolidada. Lançou três discos de estúdio: Stranger In This Town (1991), Undiscovered Soul (1998) e Aftermath Of The Lowdown (2012). Em 2013, na última passagem do Bon Jovi pelo Brasil, Richie já estava longe da banda. A apresentação do grupo no Rock in Rio deixou a desejar. Sem o baterista Tico Torres, afastado por uma crise de apendicite, a performance foi morna. Apesar do público gigantesco, Jon sentiu o baque. It’s My Life, Always e Livin’ On A Prayer perderam a força. “Queria ter estado lá. Sei que decepcionei alguns fãs, mas, infelizmente, não deu. Para compensar, prometo alguns clássicos do Bon Jovi nessas apresentações em São Paulo. É a minha história. Não posso ir contra ela. Construímos coisas incríveis das quais me orgulho muito nesses 30 anos de banda”, comenta Richie.

O relacionamento conturbado com Jon sempre vem à tona, quando o assunto é Richie Sambora. Diplomático, ele prefere não falar muito sobre o “amigo” e as supostas divergências que o levaram a deixar o grupo. “Eu estava esperando você me perguntar (gargalhada). Seguimos caminhos distintos. Eu faço as minhas coisas, ele faz as dele. Não existe isso de voltarmos. Temos uma história respeitosa. Mas chega uma hora que você cansa de estar sempre no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas. O novo e o desconhecido são sempre transformadores para qualquer ser humano”, conclui.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.