O ex-funcionário da família de Jair Bolsonaro (PL), Marcelo Luiz Nogueira dos Santos relatou em entrevista ao UOL, que Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher do chefe do executivo, revelou que a primeira mansão onde o ex-casal viveu na Barra da Tijuca, na rua Maurice Assuf, no Rio de Janeiro, entre os anos de 2002 a 2007, foi comprada com ‘’dinheiro por fora’’. Cristina nega as acusações.

Ao comprar esta casa, Bolsonaro e Cristina fizeram uma escritura de promessa de compra e venda antes de formalizar a negociação. Nesta escritura consta que a venda da mansão foi negociada por R$ 500 mil. Contudo, o imóvel à época tinha valor de avaliação de R$ 874,1 mil. Portanto, a transação foi realizada com um desconto de 43%.

De acordo com o acertado entre o antigo casal Bolsonaro e os proprietários do imóvel, R$ 160 mil foram pagos com um cheque, entregue no momento da compra da mansão e outros R$ 250 mil deveriam ser pagos até o dia 19 de dezembro de 2002. O antigo casal declarou ao cartório que havia pago R$ 90 mil como sinal. Não foi informado no documento o modo de pagamento, como também quando a escritura de compra e venda do imóvel foi formalizada após a quitação dos R$ 250 mil.

Marcelo Nogueira começou a trabalhar para Jair e Cristina na campanha de Flávio Bolsonaro para deputado estadual em 2002 e, posteriormente, foi convidado a continuar trabalhando na nova mansão que o casal havia comprado. Nogueira relatou que ao limpar o escritório e organizar papéis, avistou a escritura da casa, por decorrência da mudança, e comentou com Cristina que ficou surpreso com o valor, devido as características do imóvel. Nogueira afirma que Cristina Valle disse a ele que “sempre tem um por fora, né?”. Atualmente a casa esta avaliada em R$ 3 milhões.

‘’Quando ela comprou aquela casa da Barra, na época, por R$ 500 mil, na documentação. Só que foi mais. Que foi dado em dinheiro vivo, por trás’’, relatou o ex-funcionário.

Posteriormente, diante da separação de Cristina, em 2007, o presidente ficou com o imóvel da rua Maurice Assuf e o vendeu para comprar outra casa na Barra da Tijuca, no condomínio Vivendas da Barra, onde foi viver com a sua atual esposa, Michelle. A nova compra ocorreu em 2009. A casa foi adquirida por R$ 409 mil, porém, estava avaliada em R$ 1 milhão á época.

Edson Magalhães, antigo proprietário do imóvel, informou que os trâmites foram realizados por sua esposa, que já faleceu, e que tudo foi realizado legalmente. Ele afirmou que não se recordava dos detalhes, devido ao tempo, mas que eles estariam de acordo com o que foi declarado na escritura.

Cristina negou ter ocorrido ‘’pagamento por fora’’ na compra da casa. De acordo com ela, o valor venal do imóvel era maior que o real por ser uma ‘’avaliação artificial’’ da prefeitura do Rio. ‘’Prefeituras de todo Brasil fazem isso para cobrar IPTU maior e aumentar a arrecadação’’, afirmou.

Segundo Cristina, na época dos acontecimentos ‘’o imóvel foi comprado pelo valor real de mercado regular e dentro da lei’’. ‘’Querem atingir o presidente em época de campanha, criando especulações sobre coisas que não existem e que aconteceram há 20 anos. Fazem isso por não encontrarem nenhuma irregularidade no governo’’, afirmou Valle.
O relato de Nogueira mostra que podem ter ocorrido outras negociações, além das já evidenciadas pelas investigações, as quais demonstraram que metade do patrimônio da família Bolsonaro foi adquirida em espécie. Desta forma, observa-se que os 107 imóveis negociados pela família Bolsonaro, durante três décadas, foram apenas a ‘’ponta do iceberg’’, em esquemas duvidosos realizados pelo capitão e seus familiares.