Ex-executiva da Avon nega ter mantido empregada em condição análoga à escravidão

Ex-executiva da Avon nega ter mantido empregada em condição análoga à escravidão

A ex-executiva da Avon Mariah Corazza negou as acusações de ter mantido a empregada doméstica Neide Pereira da Silva, 61, em condição análoga à escravidão. Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, Mariah disse que estava tentando ajudar a funcionária.

Conforme o Ministério Público do Trabalho, Neide trabalhava para a família desde 1998, quando Sônia, mãe de Mariah, contratou a mulher como empregada doméstica. Por 13 anos, a mulher trabalhou sem registro em carteira, sem férias e sem décimo terceiro salário.

De acordo com o relato da vítima, a situação piorou em 2011, quando a casa dela desabou e ela passou a morar de favor na casa da mãe de Sônia. A mulher continuou trabalhando como empregada, mas não recebia mais um salário.

Para a ex-executiva, a situação foi ‘um pouco forjada’. Segundo ela, Neide não teria sido funcionária da casa e o quartinho foi oferecido para ajudá-la em um momento de crise financeira. Em depoimento à polícia, Mariah alegou que Neide não era funcionária da família há anos e que dormia esporadicamente no ‘quartinho’.

Pagava Neide para passear com cachorro

Sobre o salário, a ex-executiva disse que pagava Neide de vez em quando para passear com os cachorros. “Depois que deixou de ser diarista da minha mãe, a Neide nunca mais foi diarista na minha casa. O único serviço que prestou para mim foi cuidar dos cachorros. Eu pagava R$ 400, em duas vezes. Até onde eu sei, esse valor está dentro do razoável”, disse à Folha.

Na entrevista, Mariah foi questionada se nunca havia passado pela cabeça dela de que a relação trabalhista poderia conter erros, já que a funcionária morava na casa e prestava ‘eventuais serviços’.

“Como eu conhecia a Neide há 22 anos, [achava que] nunca ela iria chegar e falar ‘ah, eu trabalhei para ela e ela nunca me pagou’. Poxa, eu confiava nela, né? Tudo o que eu tinha, ela tinha acesso. Eu paguei pelo que eu pedi para ela fazer para mim, que era cuidar dos cachorros. Não acho que paguei menos do que deveria, nada assim”, respondeu.

Mariah chegou a ser presa

Mariah Corazza Üstündag chegou a ser presa em flagrante, mas foi solta após pagar fiança de R$ 2,1 mil. O marido dela, Dora Üstündag, de 36 anos, também foi indiciado pela Polícia Civil.Os três tiveram os bens bloqueados pela Justiça do Trabalho em São Paulo. O valor do bloqueio chega a R$ 1 milhão. A pedido do Ministério Público do Trabalho a Justiça também determinou a liberação de três parcelas do seguro-desemprego para a vítima.

No âmbito criminal, Mariah e Dora foram indiciados por redução a condição análoga à de escravo, abandono de incapaz e omissão de socorro. Sônia só foi denunciada na ação trabalhista. O advogado Eliseu Gomes da Silva afirmou à Folha que a família não vai se manifestar neste momento sobre o que aconteceu.