A ex-esposa do cirurgião francês Joel Le Scouarnec, julgado por agredir sexualmente 299 pacientes, afirmou, nesta quarta-feira (26), que “não suspeitava de nada” sobre seu então marido, embora seu ex-cunhado tenha declarado em uma audiência que ela estava ciente e que não fez nada.
“Não havia nada que pudesse me levar a pensar [nisso]. Nada, nada, nada […] Nunca tive suspeitas”, declarou Marie-France, de 71 anos, no terceiro dia do julgamento de seu ex-marido no tribunal penal de Vannes, no oeste da França.
Marie-France, que se divorciou de Le Scouarnec em 2023, insistiu que nunca teve a menor suspeita sobre as tendências pedófilas de seu marido, apesar de vários documentos sugerirem o contrário.
Anteriormente, o irmão do acusado havia afirmado que Marie-France “estava ciente das ações de seu marido e não fez nada”, mas que não tinha “provas” disso.
Ela “poderia ter mandado prender meu irmão”, disse o ex-cunhado, que não escondeu a inimizade com Marie-France, a quem acusou de “querer o marido por dinheiro”, de ter dormido com o primeiro marido de sua irmã, de ter tido um amante e até mesmo de ter feito avanços em direção a ele.
O homem também não escondeu a raiva que sente do irmão: “Acho que ele deveria ficar preso até morrer, isso seria bom para a sociedade”, disse ele.
Cinco anos mais novo que o ex-cirurgião, o irmão afirmou que cortou todos os laços com Joel desde a denúncia pelo estupro de sua vizinha de seis anos em 2017, o que levou à apreensão de cadernos e arquivos nos quais o médico anotava detalhadamente os abusos cometidos e os nomes das vítimas, que estavam sob efeito de anestesia, entre 1989 e 2014, em hospitais do oeste da França.
Dois filhos do ex-cirurgião Joel Le Scouarnec explicaram na terça-feira, em seu macro-julgamento, a devastação que o caso de seu pai trouxe para a família.
“Sua perversão explodiu como uma bomba atômica em nossa família”, disse seu filho mais velho, de 42 anos, ao tribunal de Vannes.
“Não sei de onde veio essa perversão. Nem mesmo a entendo”, disse o filho, que comparou seu pai ao ‘Dr. Jekyll e o Sr. Hyde’, um símile também usado por sua mãe e ex-mulher do cirurgião de 74 anos.
O caso provocou indignação e repulsa na França, ainda chocada com as recentes revelações do julgamento de Dominique Pelicot, condenado por recrutar dezenas de desconhecidos na internet para que estuprassem sua esposa, a quem ele dopava para que fosse abusada, por mais de uma década.
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