Um ex-editor de um jornal sensacionalista subiu ao banco de testemunhas nesta terça-feira (23), no julgamento de Donald Trump, e descreveu como eliminava histórias negativas sobre o magnata republicano durante sua campanha presidencial de 2016.

O ex-presidente americano, de 77 anos, está sendo julgado por falsificar 34 documentos contábeis para esconder o pagamento de 130 mil dólares, através de seu advogado Michael Cohen, à ex-atriz pornô Stormy Daniels na reta final da campanha eleitoral de 2016, quando ele surpreendentemente venceu a democrata Hillary Clinton.

David Pecker, de 72 anos, que era editor do tabloide National Enquirer, foi a primeira testemunha da Promotoria no histórico julgamento de Trump, que ocorre menos de sete meses antes de sua esperada revanche contra o presidente Joe Biden na disputa pela Casa Branca.

Pecker depôs ao fim de uma audiência de quase 90 minutos em que os promotores pediram ao juiz Juan Merchan que declarasse Trump em desacato por violar uma ordem de silêncio parcial que o impede de intimidar testemunhas.

Merchan, que impôs a ordem de silêncio em 1º de abril, ouviu os argumentos dos promotores e dos advogados de defesa, mas não emitiu uma decisão imediata.

Pecker disse que conhece Trump desde 1989 e o descreveu como um amigo: “Eu o chamava de Donald”.

Também afirmou que os leitores do National Enquirer “adoravam” Trump, que estrelou o programa de televisão de sucesso “O Aprendiz” antes de entrar na política em 2015.

“O acompanhavam religiosamente”, contou Pecker, e uma pesquisa feita pelo tabloide revelou que 80% dos leitores votariam nele para presidente. “Eu transmiti essa informação ao Sr. Trump”, disse.

– Ajuda para a campanha –

Pecker relatou que, em uma reunião em agosto de 2015 na Trump Tower com Trump, Cohen e a assistente pessoal de Trump, Hope Hicks, concordou em apoiar a incipiente campanha de seu amigo para a nomeação presidencial republicana de 2016.

“Eles me perguntaram o que poderia fazer e o que minhas revistas poderiam fazer para ajudar a campanha”, disse. A resposta foi que “publicaria histórias positivas sobre Trump e negativas sobre seus adversários”.

O ex-advogado pessoal do magnata era a pessoa de contato. “Quando eu avisava Michael Cohen sobre uma história negativa, ele próprio tentava investigar para ver se era verdadeira ou não”, afirmou Pecker.

“E ele se certificava de que a história não fosse publicada e garantia que fosse enterrada”, continuou.

Embora Pecker não tenha participado pessoalmente do pagamento a Daniels, os promotores buscam, com seu depoimento, demonstrar que Trump e seu advogado recorriam comumente a essa prática.

– Ataques “intencionais” –

Antes de Pecker prestar depoimento, a Promotoria acusou Trump de violar a ordem do juiz de 1º de abril que o proibiu de falar mal das testemunhas, membros do júri ou do pessoal do tribunal.

O promotor Chris Conroy disse ao juiz que os ataques “voluntários” e “intencionais” do ex-presidente às testemunhas “claramente violam” a ordem do juiz e pediu que o republicano fosse multado em 1.000 dólares por cada violação.

“Ele conhece a ordem, sabe o que não pode fazer e ainda assim faz”, declarou Conroy. “Ainda não estamos buscando uma condenação de prisão”, mas o tribunal deveria “lembrá-lo de que o encarceramento é uma opção se necessário”, esclareceu.

Prender Trump poderia criar um conflito com o Serviço Secreto, a agência responsável por proteger os presidentes anteriores e atuais.

Em sua plataforma Truth Social, Trump reclamou: “Todos têm permissão para falar e mentir sobre mim, mas não tenho permissão para me defender”.

Espera-se que Daniels e Cohen sejam as principais testemunhas da Promotoria.

Trump os tem atacado repetidamente na Truth Social, chamando-os, por exemplo, de “duas sacolas de lixo que, com suas mentiras e distorções, custaram muito caro para nosso país”.

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