Ex-dirigente do departamento de medicina do Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC), o médico norte-americano William Moreau diz que foi demitido da entidade em represália por ter questionado a postura do comitê em relação às denúncias de abuso sexual e saúde mental dos atletas do seu país.

“Francamente, o que realmente me preocupa é: o que acontece se outra criança for estuprada e eu não disser alguma coisa? O que acontece se outro atleta se suicida e eu não disser alguma coisa? Alguém tem que chamar a atenção do USOC para começar a escutar”, disse Moreau em entrevista à ESPN, nove meses após ser demitido pelo comitê.

Moreau acionou o USOC na Justiça alegando que sua demissão, em maio passado, depois de 10 anos na entidade, obedece a uma represália porque fez recomendações internas e apresentou queixas sobre o fracasso da organização para proteger os atletas ao longo dos anos.

“O caso não é sobre o jeito como o USOC me tratou também é sobre proteger os atletas que o USOC sabe há muito tempo que estão em um caminho prejudicial”, declarou o médico.

“Nós lamentamos que o Dr. Moreau e seu advogado tenham deturpado os motivos de sua saída do USOC. Vamos honrar sua decisão para ver este assunto ser tratado nos tribunais. E não vamos comentar esta situação de forma mais específica daqui em diante”, disse Luella Chavez D’Angelo, porta-voz da entidade.

O processo ocorre cinco meses antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em um contexto em que o Departamento de Justiça americano e o Congresso investigam diversas acusações contra o USOC, como o escândalo de abuso sexual do médico Larry Nassar, sentenciado em 2018 a 40 a 125 anos de prisão por abusar de ginastas.

Em 2012, Moreau tinha feito recomendações ao USOC de que médicos como Larry Nassar não deveriam encontrar atletas desacompanhadas. Nassar foi condenado por abusar de 332 ao longo de sua trajetória como médico esportivo na ginástica. “De alguma forma, sinto que tenho que dar voz aos atletas que foram abusados, os atletas que estão sofrendo, os atletas que não recebem a atenção que precisam”, disse Moreau ao jornal The Washington Post. “Espero que, ao lançar luz sobre isto, talvez as pessoas comecem a prestar atenção”, acrescentou.