Na última terça-feira (16), 19 das 20 equipes que participam do Brasileirão assinaram um documento com a intenção de criar uma liga independente que seria responsável pela administração do Campeonato Brasileiro.

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A tentativa de criar um órgão alheio a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) agrada grande parte não apenas dos dirigentes, mas também quem já atuou na área como é o caso do ex-CEO e vice-presidente do Bahia, Pedro Henriques.
Para ele, a medida reforça o pensamento de administrar o esporte de maneira mais eficiente tanto enquanto modalidade como também enquanto produto de potencial econômico:

– A iniciativa é ótima. A necessidade dos clubes voltarem a ter um contato direto constante e pensar pautas importantes coletivamente é algo que pode impactar muito positivamente no futebol como “produto da indústria do entretenimento. Isso passa por questões de organização – como calendário – até elementos comerciais e direitos de transmissão. Me parece também que os clubes aproveitaram o momento de fragilidade política institucional da CBF.

Na análise feita por Pedro, a medida atual não pode ser comparada, por exemplo, com a última movimentação feita por equipes na intenção de formatar uma liga independente como foi o caso da Primeira Liga, criada em 2015 e que se extingiu em 2018.

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Isso porque, na análise do ex-dirigente do Esquadrão que foi eleito o melhor CEO do ano em 2020 no prêmio oferecido pela Conferência Nacional de Futebol (CONAFUT), existe um caráter de ruptura bem menos intenso do que na tentativa anterior que envolvia 21 equipes de divisões distintas.

– É possível fazer um paralelo, mas essa ideia não me agrada. A Primeira Liga é um exemplo fracassado. Foi fruto de uma semente que desde o início flertava com uma “ruptura absoluta” o que é algo muito difícil diante do ecossistema político de organização estabelecido no futebol brasileiro. Muito mais palpável é uma mudança paulatina, com menos traumas. A realidade mostra que é necessário muita habilidade política para conduzir uma mudança dessa proporção. A capacidade de gestão e habilidade comercial são fundamentais, mas os clubes precisarão ter muito jogo de cintura para conseguir conduzir as coisas dentro da CBF e com as Federações. Nesse sentido, foi muito inteligente a ideia de mudar o Estatuto da CBF. Uma mudança sólida e real teria isso como pressuposto fundamental – detalhou.

Formado em direito e com experiência na área de direito desportivo, Pedro Henriques não enxerga qualquer tipo de elemento jurídico que possa criar grandes obstáculos a materialização da ideia, citando como uma espécie de “case de sucesso” o que ocorre nos últimos anos com a Liga do Nordeste e a potencialização gradual da Copa do Nordeste.

Além disso, o ex-dirigente do Bahia também fez uma análise minuciosa sobre como a atual medida pode estruturar o seu planejamento para se tornar uma iniciativa sólida e criar uma nova ordem administrativa no futebol brasileiro:

– Não há qualquer impedimento à criação da Liga. Pelo contrário: a legislação a autoriza. Inclusive já existe no Brasil uma liga que funciona muito bem que é a Liga do Nordeste que vai para seu décimo ano seguido de competição no próximo ano, sendo fundamental para os clubes dessa região tanto em aspectos técnicos quanto financeiros.

– Primeiro é fundamental a consolidação do entendimento de que os clubes terão seus interesses melhor atendidos caso se organizem através da Liga. Parece clichê, mas se não houver a leitura que “a união faz a força” a tendência é dar errado. O segundo ponto é a habilidade nas duas frentes principais: a institucional, junto à CBF e Federações; e a comercial, com os grandes players do mercado, de grupos de comunicação a patrocinadores. Será preciso ajustar os interesses de todos os envolvidos, especialmente na parte institucional. Nesse sentido volto a citar a habilidade na reconstrução a Copa do Nordeste. Evidentemente, trata-se de uma competição de muito menos apelo e alcance que o Brasileirão, mas tudo foi conduzido de uma forma que atendeu os interesses dos clubes, das federações da região e da própria CBF. Se houver por parte de todos envolvidos o entendimento de que concessões recíprocas precisarão ser feitas a chance de sucesso aumenta substancialmente. A parte comercial, vejo como menos complicada, até porque, por exemplo, para os parceiros é interessante ter o campeonato premium do país esticado ao longo do ano, parando em datas FIFA etc. – concluiu.


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