20/02/2019 - 8:11
A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira, 19, em São Paulo, pela terceira vez, o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, estatal paulista responsável por obras viárias. Já apontado como arrecadador de campanhas do PSDB, ele foi incluído, agora, no rol de operadores financeiros da Odebrecht pela 60.ª fase da Operação Lava Jato.
Segundo as investigações, após deixar a Dersa, em 2010, Vieira de Souza providenciou junto com doleiros R$ 100 milhões em espécie para a empreiteira pagar propina e caixa 2 de campanha a políticos em todo o País, e mantinha cerca de R$ 132 milhões de origem ilícita em quatro contas na Suíça da offshore panamenha Groupe Nantes, controlada por ele.
A PF também fez buscas em imóveis do ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que foi ministro de Relações Exteriores (governo Temer). Ele é suspeito de ter recebido, em 2007, um cartão de crédito em nome da Groupe Nantes. Nesta terça-feira, 19, o tucano pediu demissão do cargo de presidente da agência paulista Investe São Paulo, do governo João Doria (PSDB).
Deflagrada pela força-tarefa da Lava Jato do Paraná, a operação desta terça leva a principal acusação envolvendo o suposto operador do PSDB em São Paulo para a 13ª. Vara Criminal Federal de Curitiba, onde tramitam todos os casos relacionados à Petrobrás e ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – como era chamado o “departamento de propinas” da empreiteira baiana.
Os procuradores do Paraná sustentam que ao integrar o esquema de lavagem de dinheiro da Odebrecht, Vieira de Souza deve agora ser investigado na vara onde atuava o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Assim, a ação fica sob a relatoria do ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF) e “foge ao alcance”, das decisões do ministro Gilmar Mendes, conforme afirmou a juíza Gabriela Hardt, que ordenou a prisão do engenheiro.
No ano passado, Gilmar concedeu dois habeas corpus livrando Vieira de Souza da prisão. “Se isso acontecesse (de novo), seria um caso de exercício arbitrário de poder, fora do Direito”, escreveu nesta terça no Twitter o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba.
Réu em duas ações penais da Lava Jato em São Paulo – uma por desvio de R$ 7,7 milhões e outra por fraude e formação de cartel envolvendo as obras do Rodoanel Sul -, o ex-diretor da Dersa estava em recolhimento domiciliar integral e monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica por decisão tomada pela Segunda Turma do STF em setembro de 2018.
As investigações que levaram à nova prisão tiveram início a partir de depoimentos de executivos da Odebrecht e de doleiros investigados em fase anteriores da Lava Jato e ganharam força após o Ministério Público da Suíça enviar ao Brasil comprovantes da movimentação financeira das contas da offshore de Vieira de Souza naquele país.
Os documentos mostram que enquanto o engenheiro foi diretor da Dersa, entre 2007 e 2010, a Groupe Nantes recebeu cerca de R$ 2,8 milhões (em valores da época) de offshores ligadas as empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, todas com contratadas pela Dersa no Rodoanel.
As operações já eram feitas em conjunto com os doleiros Adir Assad e Roberto Tacla Duran, que operavam para a Odebrecht. Após deixar a estatal, em abril de 2010, o engenheiro passou então a atuar com os demais operadores no esquema de lavagem de dinheiro da empreiteira, sempre recebendo uma comissão pelo serviço. A offshore dele fez uma joint venture com uma empresa de Tacla Duran para dar aparente legalidade às transações.
Bunker
Em depoimento ao MPF, Adir Assad contou que Vieira de Souza tinha cerca de R$ 100 milhões guardados em dois imóveis na capital paulista, o dobro da quantia encontrada em setembro de 2017 no ‘bunker’ do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Governo Temer), em Salvador. Ele relatou ainda que carregava uma perua com até 15 malas com R$ 1,5 milhão cada na garagem de uma das casas e que o engenheiro colocava notas de dinheiro ao sol “para que elas não mofassem”.
Defesas
As empreiteiras citadas afirmaram nesta terça que colaboram com as investigações. Em nota, a Odebrecht disse que “tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos”. “A Odebrecht já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos e segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente”, afirma o comunicado.
A construtora Camargo Corrêa afirmou que “foi a primeira empresa de seu setor a firmar um acordo de leniência e, desde então, vem colaborando continuamente com as autoridades”.
A Andrade Gutierrez informou que apoia toda iniciativa de combate à corrupção. “A companhia assumiu esse compromisso público ao pedir desculpas em um manifesto veiculado nos principais jornais do País.”
A reportagem fez contato com a assessoria de Paulo Vieira de Souza, mas não obteve resposta até a conclusão desta matéria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.