Ex-membro da AfD, Stefan Räpple foi acusado de incitar a derrubada do governo alemão durante discurso e participar de tentativa de invasão do Parlamento ao lado de turba de extremistas em 2020.O ex-deputado estadual de ultradireita Stefan Räpple, de 40 anos, foi condenado nesta quarta-feira (19/01) a 10 meses em liberdade condicional e a pagar uma multa de 2.400 euros por um tribunal regional de Mainz, no sudoeste da Alemanha.

Em agosto de 2020, Räpple, então um deputado estadual de Baden-Württemberg, participou de uma manifestação contra as medidas para conter a pandemia em Berlim que quase resultou na invasão do Reichstag, a sede do Parlamento Alemão, por uma turba de membros da cena de extrema direita. Na ocasião, Räpple resistiu à prisão quando policiais tentaram afastar os invasores.

No mês seguinte, ele participou de um protesto em Mainz no qual fez um discurso inconstitucional no qual pediu uma derrubada violenta do governo alemão, conclamando a multidão a invadir a sede da chancelaria federal, em Berlim.

No processo, Räpple foi acusado formalmente de incitar atos criminosos e de resistir à prisão. O valor da multa será encaminhado para um hospital infantil.

Räpple foi deputado estadual entre 2016 e 2021 pelo partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Ele foi expulso da legenda em 2020, após sua participação nos protestos negacionistas,

Antes disso, o ex-deputado já havia protagonizado outros incidentes. Em dezembro de 2018, ele foi expulso do plenário do parlamento estadual de Baden-Württemberg após chamar um deputado social-democrata de “terrorista vermelho”. Durante seu mandato, ele também promoveu típicas da ultradireita, como o combate a uma suposta “ideologia de gênero”, espalhou teorias conspiratórias, defendeu um correligionário acusado de antissemitismo e chegou até mesmo a propor que a AfD se aproximasse de grupos extremistas.

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Em setembro de 2020, em Mainz, durante o discurso que lhe renderia uma ação na Justiça, ele chamou a democracia representativa alemã como uma “ditadura partidária”.

Após a tentativa de invasão do Reichstag, Räpple também postou um vídeo no YouTube no qual chamou a república alemã de “despótica” e de “escória”. Na postagem, ele teria dito: “Antes de tudo, devemos derrubar o governo, e devemos fazer isso pela força. […] Temos que ter acesso à chancelaria pela força, temos que desobstruir os escritórios do governo”.

Após essas declarações, ele foi expulso da AfD. O diretório regional do partido em Baden-Württemberg já vinha tentando expulsar Räpple há meses dos seus quadros por causa das ligações do então deputado com grupos de extrema direita.

Durante o julgamento desta quarta-feira, Räpple pediu desculpas por seus atos e disse que tem evitado fazer discursos desde novembro de 2020.

Ele ainda admitiu seus crimes durante a sessão, o que contou como um atenuante na sentença. Ele também não tinha antecedentes criminais. O advogado de defesa também anunciou que não recorreria da sentença.

A tentativa de invasão do Reichstag

Os protestos que culminaram na tentativa de invasão do Reichstag, um prédio que, entre outros órgãos oficiais, abriga o parlamento alemão, ocorreram em 29 de agosto de 2020, quando manifestantes – boa parte deles contrários às medidas restritivas anticovid – tentaram entrar no edifício e foram impedidos pela polícia e por forças de segurança.

Depois que o protesto envolvendo cerca de 38 mil negacionistas da covid-19 e diversas facções ultradireitistas foi dispersado, centenas forçaram a entrada no Reichstag, que fica no centro da capital alemã.

Imagens de extremistas carregando bandeiras e símbolos de extrema direita chocaram a Alemanha.

Na época, em comunicado divulgado no Instagram, o presidente Frank-Walter Steinmeier definiu as “bandeiras nazistas e obscenidades de extrema direita frente ao Bundestag” como “um ataque insuportável ao coração da nossa democracia”. E concluiu: “Nunca o aceitaremos.”

O ministro do Interior Horst Seehofer lembrou que “o prédio do Reichstag é a sede do nosso Parlamento, e portanto o centro simbólico de nossa democracia liberal”, sendo “inaceitável que incitadores do caos e extremistas estejam abusando dela para seus próprios fins”, declarou, em entrevista ao jornal Bild am Sonntag.


gb/jps (ots)


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