O ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes confirmou à Polícia Federal que esteve presente em reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para tratar de minutas de teor golpista contra as eleições presidenciais de 2022. A ISTOÉ teve acesso à oitiva, liberada na íntegra pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Em um depoimento de sete horas à Polícia Federal, no dia 1° de março, o ex-comandante afirmou que Bolsonaro apresentou, em uma reunião com comandantes das Forças Armadas, hipóteses para dar o golpe de Estado. No encontro, Bolsonaro detalhou a possibilidade de “utilização dos institutos jurídicos” que abriram espaço para decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio, em relação ao resultado das eleições que deram a vitória a Lula.

O general também disse à PF que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres é a mesma versão que foi apresentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos chefes das Forças Armadas em reunião em dezembro de 2022.

Ao detalhar uma das reuniões, o general disse que esteve no Palácio da Alvorada em 7 de dezembro de 2022, a convite do então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira. Freire Gomes disse que não sabia a pauta do encontro, que ocorreu na biblioteca. Nesta reunião, o militar relatou que o assessor especial da Presidência Filipe Martins “leu os ‘considerandos, que seriam os “fundamentos jurídicos” da referida minuta de decreto” do golpe.

O texto sacramentava a tentativa de golpe com expressões comuns do então presidente Bolsonaro, como “jogar dentro das quatro linhas”. Freire Gomes declarou ainda que Bolsonaro informou aos presentes que “o documento estava em estudo e depois reportaria a evolução aos comandantes”.

O mesmo documento foi levado a uma reunião entre os chefes militares e o ministro da Defesa, em 14 de dezembro. Freire Gomes diz que em todos os momentos, ele e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, se mostraram contrários aos planos golpistas. O chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se colocado à disposição do ex-presidente.

Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, chegou a chamar Freire Gomes de “cagão” numa mensagem interceptada pela PF por ele não aceitar o suposto plano de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ele também estimulou ataques ao então comandante do Exército.