O ex-amante do rei emérito Juan Carlos da Espanha testemunhou, nesta sexta-feira (15), que sua vida foi ameaçada pelo ex-chefe de inteligência que, segundo seu relato, seguia ordens do monarca atualmente exilado nos Emirados Árabes Unidos.

O depoimento da consultora alemã Corinna Larsen foi feito durante o julgamento por corrupção de um comissário da polícia espanhol aposentado, famoso por suas revelações que abalaram a elite política e empresarial espanhola.

Conectada por videoconferência de Londres a um tribunal em Madri, Larsen assegurou que em maio de 2012 o general Félix Sanz Roldán, chefe do centro de inteligência espanhol CNI entre 2009 e 2019, ameaçou ela e seus filhos em uma conversa em um hotel em Londres que a “aterrorizou”.

“O general indicou várias condições e instruções, recomendações que eu tinha que seguir. E me disse que se eu não as seguisse, não poderia garantir minha segurança nem a de meus filhos”, declarou ao tribunal.

“É mentira. Nunca, nunca, ameacei uma mulher e uma criança”, respondeu o ex-diretor do CNI no mesmo tribunal.

Larsen assegurou que durante seu romance com Juan Carlos, encerrado em 2012, dois anos antes de sua abdicação, teve acesso a documentos delicados sobre os “negócios” do rei e da Casa Real que os serviços de inteligência queriam obter.

“O rei Juan Carlos e o general Sanz Roldán fizeram um esforço para deixar claro que o rei ordenava essas operações (…) Essas instruções vieram de cima”, disse Larsen, que também usa o sobrenome “zu Sayn Wittgenstein”, de seu segundo marido, um aristocrata alemão.

Segundo seu relato, após aquele encontro em um hotel de Londres, voltou para seu apartamento nos Alpes suíços, onde encontrou um livro sobre a morte da princesa Diana de Gales em 1997 em um acidente de trânsito em um túnel em Paris.

Ainda segundo seu depoimento, após algumas horas recebeu uma ligação anônima em espanhol dizendo que “há muitos túneis entre Nice e Mônaco”, onde residia desde 2008.

Questionada pela acusação, a mulher argumentou que não denunciou esses fatos por medo e por causa da imunidade de que gozava o monarca e Sanz Roldán.

A declaração foi feita durante o julgamento do ex-comissário José Manuel Villarejo, a quem Larsen explicou as ameaças durante uma reunião em 2015.

Villarejo registrou a conversa que anos depois vazaria para a mídia espanhola, estimulando as velhas suspeitas sobre os negócios pessoais do ex-chefe de Estado.

Essas suspeitas se agravaram este ano, com investigações judiciais abertas na Espanha e na Suíça que levaram o monarca ao exílio nos Emirados Árabes Unidos em agosto com o objetivo, segundo ele, de “facilitar o exercício” de funções para seu filho e herdeiro, Felipe VI.