Quatro ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga, localizado na Ilha do Governador (RJ), procuraram na terça-feira (10) a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) para apresentarem novas denúncias de assédio sexual contra dois professores da instituição. Isso ocorreu depois que um grupo de alunas e ex-estudantes relataram o mesmo caso no órgão. As informações são do G1.

Os novos relatos contra os professores Eduardo Silva Mistura e Álvaro Luiz Pereira Barros, que ministram as disciplinas de história e educação física, respectivamente, foram encorajados depois que o portal divulgou os casos das alunas e ex-estudantes.

As novas denúncias apresentadas devem ser incluídas no documento que a OAB-RJ irá apresentar ao Ministério Público Federal (MPF). Isso é necessário já que o Colégio Brigadeiro Newton Braga é subordinado à Força Aérea Brasileira (FAB).

“É importante que essas meninas encorajem outras crianças e adolescentes que passam por situações parecidas, em outros ambientes. Que elas saibam que terão apoio dos órgãos de proteção e de garantia de direitos”, disse a coordenadora do Grupo de Trabalho da Criança, Adolescente e Juventude da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Patrícia Félix.

As alunas e ex-estudantes decidiram procurar a OAB-RJ para relatar os casos porque, segundo elas, o colégio foi informado sobre os assédios, abriu um Inquérito Policial Militar, mas nada avançou em dois anos.

Agora, o grupo de advogados da OAB-RJ tem como objetivo que os professores sejam investigados fora do ambiente militar.

“A questão agora é o acolhimento dessas jovens que passaram por um momento de dificuldade no passado, mas que hoje precisam de atenção e precisam que suas denúncias sejam ouvidas. Nós vamos tomar todas as medidas cabíveis dentro do processo legal para que as investigações continuem”, afirmou Patrícia.

Assédio gerou trauma

Uma ex-aluna, que frequentou o colégio entre 2001 e 2012, relatou ao G1, na condição de anonimato, que o professor de história Eduardo Silva Mistura enviava mensagens “inapropriadas” frequentemente.

Ela afirmou que isso começou em 2008. Inclusive, ela e o professor chegaram a trocar dois “selinhos” dentro do colégio.

“Em 2008, foi quando ele começou a se aproximar de mim e rolou dois selinhos que ele disse ter sido sem querer, já que ele tinha o costume de abraçar e dar dois beijos no meu rosto.”

“Também em 2008, eu costumava ficar (conversando) em frente à escola com ele, sentadas nos bancos após a aula aguardando a minha condução. Foram anos de conversas inapropriadas. Eu não tinha essa noção (se aquilo era assédio). Eu me apaixonei por ele”, completou.

A mulher, hoje com 29 anos, afirmou que o possível assédio teve início quando ela tinha 15 e o professor, 31. Ela destacou que Eduardo se aproximou após ter conhecimento que ela, na época, passava por um relacionamento abusivo.

“Em 2011, eu matava as aulas de educação física para ficar conversando com ele nos bancos que existiam dentro da escola, em frente a sala de História.”

Ela afirmou que o contato com o professor continuou depois que saiu do Colégio Brigadeiro Newton Braga e, em 2014, eles chegaram a sair juntos.

No entanto, em 2020, houve o “Exposed Newton” no Twitter, em que alunos e ex-alunos relataram possíveis práticas abusivas dos professores da escola, e ela descobriu que não foi a única estudante abordada por Eduardo Mistura.

“Eu me senti usada. Ele fazia eu me sentir especial e única. Eu acreditava que por mais inadequado que tivesse sido nosso envolvimento, eu acreditava ser um caso isolado. Quando eu vi os ‘Exposed Newton’ no Twitter, entendi que ele agia assim com várias outras alunas e foi muito difícil lidar com isso”, relembrou, citando uma campanha nas redes sociais feita em 2020 para expor professores do colégio acusados de assédio. Anos depois eu sinto que tudo que aconteceu virou um trauma. Virou uma questão minha na terapia.”

Ao ser questionada sobre o motivo que a levou a denunciar o caso, ela relatou que o seu objetivo é evitar que outras jovens passem pela mesma situação.

“Sinceramente, eu não acredito que ele vá ser punido. Mas eu espero que o meu relato e o relato de outras meninas, fortaleça outras meninas que passaram por isso, para elas saibam que não estão sozinhas e também para evitar que novas meninas passem pelos abusos que eu passei. Que outras meninas não caiam no canto dele, ou se apaixonem.”

O que diz o professor de história

O professor Eduardo Mistura rebateu na sexta-feira (6) as acusações feitas e negou qualquer abuso sexual contra estudantes ou ex-alunas.

“Até agora não aconteceu nenhuma constatação de que houve qualquer coisa relacionada a abuso sexual.”

Ele ressaltou que espera ser inocentado de todas as acusações.

O que dizem o colégio e o professor de educação física

Os responsáveis pelo Colégio Brigadeiro Newton Braga afirmaram por meio de nota que os casos não foram notificados formalmente à instituição.

“Ainda assim, diante da gravidade da suspeita, a administração instaurou imediatamente, em 23 de junho de 2020, uma apuração por meio de Inquérito Policial Militar (IPM), o qual, após concluído, foi encaminhado ao Ministério Público Militar, em 27 de agosto do mesmo ano. Na ocasião, os supostos envolvidos ficaram também, por medida de cautela, afastados de suas funções por até 120 dias, prazo máximo previsto em lei.”

“Como desdobramento, foi determinada, ainda, a abertura de Processos Administrativos Disciplinares (PAD) para apurar também a existência de faltas disciplinares por parte dos servidores”, completou.

O comunicado ainda ressaltou que a Força Aérea Brasileira repudia qualquer conduta que não siga os seus valores, dedicação e missão.

O professor de educação física Álvaro Barros foi procurado pelo G1, mas não retornou os contatos feitos por mensagens e ligações.