O Canal do Panamá precisa melhorar a disponibilidade de água se não quiser perder seu negócio, advertiu, nesta sexta-feira (25), o último administrador da via, Jorge Quijano, enquanto a rota marítima se viu forçada a restringir o tráfego de embarcações por causa da seca.

“Por enquanto, considero a situação administrável. Mas temos, sim, que mostrar já à indústria que estamos dando passos definitivos para resolver o problema da água e isso para mim é chave, porque senão, vamos ficar fora desse negócio”, disse Quijano em entrevista à AFP.

“Quando digo que vai afetar o negócio, não é que vá fechar. Sempre vão passar navios por aqui”, acrescentou. Segundo Quijano, o canal gera 2,5 bilhões de dólares (aproximadamente 12 bilhões de reais, na cotação atual) em receitas para o Estado, mas sem a água necessária, “simplesmente vamos reduzir isso a US$ 1,8 bilhão [R$ 8,7 bilhões] ou algo assim”.

Quijado deu estas declarações em um momento em que o canal enfrenta uma crise hídrica, que levou à adoção de medidas restritivas para o tráfego e o calado dos navios, provocando filas de embarcações para cruzar a via.

O Canal do Panamá utiliza água da chuva para mover as embarcações nas eclusas.

Para cada embarcação que atravessa a rota são despejados cerca de 200 milhões de litros de água doce, que o canal obtém de uma bacia hidrográfica por meio dos lagos Gatún e Alhajuela.

No entanto, esta bacia, que também abastece o país com água doce, foi modernizada pela última vez em 1935, quando eram registrados cerca de 6.000 trânsitos pelo canal – menos da metade dos da atualidade.

Além disso, naquela época a população panamenha não chegava a meio milhão de pessoas. Hoje, é de 4,2 milhões, metade da qual depende do canal para o abastecimento de água.

“Há um consumo exponencial dos dois lados, do consumo humano e do consumo pelo Canal do Panamá, para o qual foram construídos os dois reservatórios”, explicou.

A Autoridade do Canal do Panamá antecipa estudos para buscar novas fontes de água, mas as restrições geraram o temor de que os navios decidam trocar de rota para transportar suas mercadorias.

Se os custos de passar pelo canal nestas circunstâncias forem “excessivos”, os usuários “vão buscar outra rota que normalmente compete conosco, que é o Canal de Suez”, afirmou Quijano.

“Vamos nos concentrar em buscar essa água para sobreviver e levar as três eclusas que temos hoje ao máximo”, acrescentou.

Pelo canal de 80 km passam até 6% do comércio marítimo mundial. Seus principais usuários são Estados Unidos, China e Japão.

No último ano fiscal, passaram pela via do istmo 518 milhões de toneladas de mercadorias e o canal gerou 4,3 bilhões de dólares (R$ 21 bilhões), dos quais repassou US$ 2,5 bilhões ao Estado.

jjr/ltl/mvv/ic