A ciência moderna foi erguida em cima de inúmeros mistérios da humanidade há pouco mais de 200 anos. Embora tenha feito avanços, a área segue em desenvolvimento. Isto é, qualquer evidência ou novidade sobre civilizações pré-históricas deixa especialistas em polvorosa para entender melhor o passado. É o caso do crânio de um Paranthropus Robustus, espécie “parente” dos seres humanos, encontrado na África do Sul e datado em mais de dois milhões de anos. Por meio de um estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution, pesquisadores norte-americanos e europeus concluíram que mudanças climáticas severas causaram alterações anatômicas no corpo dos hominídeos.

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Batizado de “DNH 155”, o fóssil difere de outros esqueletos recuperados em regiões próximas por conta do tamanho do crânio, mandíbula e dentes. O clima seco alterou a vegetação e gerou um estresse alimentar. Por causa da falta de vegetais, os indivíduos foram forçados a comer alimentos mais sólidos, o que contribuiu para seu crescimento. Apesar de ser maior, o crânio não oferecia vantagens cognitivas aos indivíduos. Inclusive, segundo especialistas, a descoberta desmistifica teses sobre “superioridade intelectual” baseadas em questões físicas e étnicas — pessoas brancas, negras e indígenas.

“O tamanho do crânio não tem relação com a inteligência” Yasmin Rana, doutoranda em Neurociência (UFABC) (Crédito:Divulgação)

“O tamanho do crânio não tem relação com a inteligência”, diz Yasmin Rana, doutoranda em Neurociência e Cognição na Universidade Federal do ABC (UFABC). “Mesmo que existam diferenças físicas entre as pessoas a inteligência depende das conexões entre as células nervosas do encéfalo”, afirma. O achado simboliza um avanço na leitura do passado, pois até pouco tempo não se sabia muito sobre a espécie.

Nova abordagem

Yasmin ressalta que o estudo também combate o “racismo científico”, difundido durante os séculos XIX e XX por correntes teóricas retrógradas e desumanas, como as experiências mortais feitas por cientistas nazistas com o objetivo de provar a superioridade da raça ariana. “Acreditava-se que brancos e negros, por exemplo, tinham diferenças de inteligência por conta da estrutura corporal”, aponta. “Isso começou a perder a força a partir de 1980”, completa. Para Angeline Leece, uma das líderes do estudo, milhares de fósseis foram recuperados nos últimos anos graças aos avanços tecnológicos. E, por causa disso, sua pesquisa servirá de base para que outros materiais sejam analisados com um novo olhar daqui pra frente.