LA PAZ, 18 NOV (ANSA) – O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que vive como asilado político no México, afirmou que gostaria de voltar a seu país para completar o mandato.

Em entrevista à emissora Al Jazeera, Evo admitiu que busca uma “forma legal de retornar e estar com o povo que resiste à ditadura e ao golpe”.

Segundo o ex-presidente, ele não tentaria participar de novas eleições, apenas completaria os dois meses restantes de seu mandato. “Não posso estar fora do país. Estou acostumado a estar com o povo, como líder sindical e presidente”, disse.

Evo renunciou em 10 de novembro, após a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter detectado fraudes na eleição de 20 de outubro, quando o ex-presidente havia tentado obter seu quarto mandato seguido.

O líder socialista chegou a anunciar a convocação de um novo pleito, mas, pressionado pelas Forças Armadas e pela Polícia, deixou o cargo e se asilou no México. A opositora Jeanine Áñez, segunda vice-presidente do Senado, se aproveitou do vácuo de poder e, em uma sessão sem quórum, se autoproclamou chefe de Estado interina – todos na linha sucessória também haviam renunciado.

“Não sei por que eles têm tanto medo de Evo, não querem que eu participe. Retirei minha candidatura, mas deveriam ao menos me deixar terminar o mandato”, declarou. A Constituição da Bolívia, promulgada pelo próprio Evo, limita a dois o número de mandatos presidenciais, mas o socialista sempre buscou subterfúgios para escapar dessa regra.

O primeiro foi o argumento de que seu mandato inicial não contava, já que havia sido exercido antes da elaboração da nova Constituição. Depois, Evo convocou um referendo para derrubar o limite, mas a população rejeitou a proposta. Ainda assim, o então presidente recorreu à Justiça, que considerou o máximo de dois mandatos uma “violação dos direitos humanos”.

Áñez já disse que Evo não poderá participar da próxima eleição e prometeu processá-lo caso ele volte ao país. Mais de 20 pessoas já morreram durante protestos na Bolívia, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Cidh), que também criticou um decreto do novo governo que isenta as Forças Armadas de responsabilidades criminais.

Áñez ainda não conseguiu chegar a um acordo com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo e dono de dois terços do Parlamento, e estuda convocar eleições por decreto. (ANSA)