Mais de 370 milhões de pessoas estão convocadas a ir às urnas em junho para eleger o Parlamento Europeu, em eleições sob a sombra de Donald Trump, que deseja voltar à Casa Branca.

O fantasma de um retorno ao poder do bilionário, que não esconde seu desdém pela União Europeia e suas prioridades – desde o apoio à Ucrânia face à agressão russa até a luta contra as mudanças climáticas – pesará sobre as eleições nos 27 países do bloco.

Para a Europa, um novo governo Trump é “um enorme ponto de exclamação e um ponto de interrogação ao mesmo tempo”, observa Sébastien Maillard, do think tank Chatham House.

Os europeus se lembram do impacto negativo que a administração republicana teve nas relações entre os EUA e os países da UE.

A realização de quaisquer prioridades estratégicas da UE será “muito, muito mais difícil” com Trump na Casa Branca, diz Susi Dennison, do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

Um exemplo é o apoio da UE à Ucrânia em relação à Rússia, enquanto, nos EUA, o Partido Republicano de Trump está bloqueando um novo pacote de ajuda.

Em outra questão fundamental, também há oposição: a UE busca liderar a luta contra as mudanças climáticas e Trump, por outro lado, prometeu abandonar uma ambiciosa lei de energia limpa e aumentar a exploração de petróleo.

– Fortalecimento da extrema direita –

As eleições europeias, marcadas para 6 a 9 de junho nos países do bloco, renovarão o Parlamento Europeu, e o resultado determinará a distribuição dos principais cargos executivos da UE (as presidências do Parlamento, da Comissão e do Conselho Europeu).

As pesquisas apontam para um fortalecimento dos partidos de extrema direita, impulsionados pela corrente antissistema que está abalando praticamente todos os países do bloco.

O Partido Popular Europeu (PPE, de direita) continuará sendo o maior bloco, seguido pelos Socialistas e Democratas (S&D, social-democratas), segundo as pesquisas.

No entanto, o centrista Renovar a Europa (Renew Europe, liberais) pode perder o terceiro lugar para o bloco de extrema direita Identidade e Democracia (ID), de acordo com as pesquisas.

– Corrente anti-establishment –

De acordo com as projeções do centro de pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), os grupos populistas e aqueles que questionam a própria UE poderiam vencer em nove países do bloco, incluindo França e Itália.

As pesquisas do ECFR mostram que a principal preocupação dos europeus é a crise do custo de vida, com mais de três em cada quatro eleitores temendo que seu padrão de vida caia este ano.

A inflação está recuando, mas o crescimento econômico continua estagnado, com a projeção de que a zona do euro cresça apenas 0,6% este ano, sem perspectiva de recuperação.

“Claramente, a situação econômica é uma preocupação” em todo o bloco, observa Dennison, que acredita que os partidos de direita têm sido eficazes em explorar a frustração dos eleitores.

De acordo com Rachel Rizzo, do Centro Europeu do Atlantic Council, Trump e a extrema direita europeia têm muito em comum.

“Há uma linguagem compartilhada (…) Você ouve termos como ‘woke’ ou ‘fake news’, que se originaram com Trump, sendo usados por partidos na Europa”, diz ela.

A recente decisão do republicano de receber o presidente húngaro Viktor Orban em sua mansão na Flórida esta semana enviou uma mensagem clara aos europeus sobre sua proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin.

Para Maillard, no entanto, se Trump estiver realmente no caminho certo para derrotar Joe Biden em junho, isso poderá favorecer os partidos do establishment europeu.

“Se Trump se tornar uma ameaça e a Rússia se tornar cada vez mais agressiva, menos pessoas vão querer se lançar no desconhecido”, diz ele.

“A extrema direita sabe como atacar a burocracia, as regras e as regulamentações da UE, mas quando se trata da Europa em relação ao resto do mundo, é algo diferente”, finaliza.

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