Os países europeus, sob pressão para retomar a economia, começam a observar como será sua convivência com o coronavírus, com as máscaras de proteção como protagonistas, enquanto a epidemia avança em lugares como o Brasil, onde o presidente afirmou que não pode fazer “milagres”.
Na Europa, a necessidade de limitar os danos econômicos e sociais obrigou vários países como França, Espanha ou Alemanha a apresentar planos de retomada da atividade e da vida social prudentes, progressivos e com possibilidade de reversão, apesar dos temores de um aumento dos contágios.
Em um momento que será necessário “viver com o vírus”, nas palavras do primeiro-ministro francês Edouard Philippe, a máscara, um objeto que não era utilizado na Europa, se tornou algo fundamental, como nos transportes públicos, onde será obrigatória em muitos países.
“Encomendaram muitas máscaras (…) A maioria são empresas que desejam adotar medidas de segurança para seus funcionários para a reabertura”, declarou à AFP Alexandre de Clercq, gerente de uma empresa belga, que dobrou o número de funcionários para atender a demanda.
Na Alemanha, as máscaras também são obrigatórias em todos os estabelecimentos comerciais a partir desta quarta-feira. O país também prolongou até meados de junho a advertência global a respeito das viagens turísticas de seus cidadãos ao exterior.
Programas de detecção em massa, isolamento de pessoas infectadas e a reabertura das lojas devem acontecer nas próximas semanas no Velho Continente, onde o Reino Unido fez um alerta esta semana sobre uma nova doença que afeta as crianças e que poderia estar relacionada com o novo coronavírus.
A condição é semelhante à doença de Kawasaki, uma síndrome vascular cuja causa é indeterminada. De acordo com o jornal francês La Dépêche du Midi, quase 20 casos similares foram registrados na região de Paris.
Na França, o retorno às aulas será progressivo a partir de 11 de maio, mas na Espanha e na Itália isto só deve acontecer em setembro.
A pandemia matou mais de 217.000 pessoas em todo o planeta desde o surgimento em dezembro na China. O número de contágios supera 3,1 milhões.
A Itália lidera o número de mortes na Europa, com 27.359 vítimas fatais e 201.505 contágios. A Espanha registrou nesta quarta-feira uma leve alta no balanço diário, com 325 mortes, o que eleva o total no país a 24.275 óbitos para quase 213.000 casos.
A boa notícia na Espanha, que prepara um desconfinamento por etapas, de maio até junho, foi o maior número de altas em 24 horas desde o início da epidemia, com 6.399 pessoas curadas, o que eleva o balanço no país a quase 109.000.
– “Sou Messias” –
Para mostrar ao mundo que superou a crise, a China, onde o balanço oficial registra 4.633 mortes e quase 83.000 contágios, convocou a sessão anual do Parlamento, o grande evento do regime comunista, para 22 de maio.
Do outro lado do Pacífico, os Estados Unidos, país mais afetado do mundo, superaram a marca de um milhão de contágios e se aproximam de 60.000 mortes, mais que o número de militares mortos na guerra do Vietnã, segundo a contagem da Universidade John Kopkins.
Os estados menos afetados, como a Geórgia, reabriram parte do comércio. O Texas adotará a medida na sexta-feira e o Alabama pretende reabrir suas praias no fim de semana, mas no estado de Nova York, epicentro da pandemia, o confinamento prosseguirá pelo menos até 15 de maio.
Na América Latina e Caribe, o número de mortes se aproxima de 10.000, mais da metade delas no Brasil (5.017), onde na terça-feira foi registrado um “agravamento da situação”, de acordo com o ministro da Saúde, com o recorde de 474 vítimas fatais em um dia.
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, declarou o presidente Jair Bolsonaro, em referência ao seu sobrenome, ao ser questionado sobre seu ceticismo ante a pandemia e sua campanha contra a quarentena.
Na Nicarágua, o governo mudou de atitude e anunciou medidas para conter a propagação do novo coronavírus.
O país, com 13 contágios e três mortes, de acordo com o balanço oficial, é o único país da América Central que não adotou a quarentena, o fechamento de fronteiras ou a suspensão das aulas.
– “Covid Marie” –
Diante do avanço da doença na região, que está como a Europa há seis semanas, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou contra o aumento da fome e da pobreza.
Mas a marca do “grande confinamento”, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) classificou a atual crise, parece ir além da projetada recessão econômica mundial em 2020 e do grande número de mortes no planeta.
Na Ásia, cada vez mais pais dão a seus recém-nascidos um nome que faz referência à crise, como Corona Kumar ou Covid Marie. “Um nome que nos recorda que escapamos da COVID-19”, disse o pai desta última, nascida nas Filipinas.
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