O melhor futebol de base do planeta é europeu. Dominante nos últimos anos nas Copas do Mundo e também nos torneios entre clubes, os representantes do Velho Continente também passaram a ser soberanos nos Mundiais de base da Fifa, tendo conquistado recentemente o quarto título consecutivo sub-20, dessa vez com a Ucrânia.

Outrora dominado principalmente por Argentina e Brasil, maiores vencedores com seis e cinco títulos, respectivamente, o Mundial Sub-20 passa, desde a edição de 2013, por uma nova realidade. França, Sérvia (2015), Inglaterra (2017) e, agora, Ucrânia alteraram essa hierarquia e levaram para a Europa as últimas taças do torneio de juniores.

Assim, antes coadjuvantes na competição, as seleções do Velho Continente já ameaçam até mesmo o domínio histórico dos sul-americanos no Mundial Sub-20, tanto que agora estão a apenas um título de igualar os 11 dos representantes da Conmebol como maiores vencedores do torneio.

Na avaliação de Ney Franco, a balança passou a pender para o lado europeu pela evolução da preparação das suas seleções. “Antigamente, a América do Sul tinha o domínio, mas agora o trabalho de base dos europeus sobressai pela metodologia, a organização, a parte financeira dos clubes, algo que permite uma melhor formação cognitiva e esportiva dos atletas, lhe dando estudo. Ficamos um pouco para trás porque outros países vem fazendo melhor”, avaliou, em entrevista ao Estado, o hoje técnico da Chapecoense e que estava à frente da seleção em 2011 no Mundial Sub-20, na última conquista do Brasil e de uma equipe sul-americana.

Na sua opinião, além do maior tempo de preparação para os torneios, as seleções europeias também passaram a sobressair sobre as sul-americanas em função da força física, que se aliou ao talento, com essas equipes conseguindo ser mais intensas durante os jogos.

“As equipes estão com uma intensidade muito alta. Além do jogador correr 13km, consegue fazer ações curtas e de muita intensidade várias vezes e por mais tempo, com sprints e arrancadas. Isso é algo que os clubes precisam trabalhar, além da parte tática, ou não conseguiremos competir internacionalmente. A grande virtude do futebol brasileiro é a parte técnica, mas precisamos aliá-la com a força física ou ficaremos para trás”, disse.

A conquista desses títulos por diferentes seleções europeias e a presença de equipes de menor tradição nas fases decisivas do Mundial Sub-20 – a Coreia do Sul foi vice-campeã neste ano, enquanto o Equador, que já havia levado o título sul-americano, foi o terceiro colocado – também apontam para torneios mais equilibrados entre as equipes, com a emergência de novas forças.

“A Coreia do Sul antes contava com jogadores que até tinham força e talento, mas precisavam sair de lá para se desenvolver, fazendo intercâmbios. Eles investiram muito nisso”, afirma Ney, que observou várias equipes estrangeiras virem ao Brasil para adquirirem conhecimento e evolução.

Assim, o predomínio que já se via na Copa do Mundo, com os europeus tendo faturado os últimos quatro títulos e tendo colocado quatro seleções nas semifinais no Mundial da Rússia-2018, também se tornou realidade na base. Prova de que não só o poderio financeiro explica um domínio que também é visto no Mundial de Clubes, com os times europeus tendo vencido as seis últimas edições do torneio.

O próximo território a ser conquistado pelos europeus parece ser o Mundial Sub-17. O continente já tem o último campeão – a Inglaterra -, mas ainda está longe dos número de títulos dos africanos – sete contra quatro. Essa distância poderá ser diminuída ainda neste ano, quando o torneio será disputado no Brasil, a partir de 26 de outubro.

A seleção brasileira, aliás, só participará do torneio por ser o país-sede, pois fracassou recentemente no Sul-Americano da categoria, algo que tem se repetido no sub-20 a ponto de nem ter participado de três dos últimos quatro Mundiais. E, de longe, tem visto os europeus assumirem um protagonismo que era seu e dos argentinos.