VATICANO, 21 NOV (ANSA) – Líderes europeus defenderam nesta sexta-feira (21) que os interesses da Ucrânia sejam protegidos em um eventual plano de paz com a Rússia, após a divulgação de uma proposta elaborada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com condições que se assemelhariam a uma rendição de Kiev.
“Continuaremos a perseguir o objetivo de proteger os interesses vitais europeus e ucranianos em longo prazo”, diz uma nota do governo alemão após uma conversa por telefone entre o chanceler Friedrich Merz, o premiê do Reino Unido, Keir Starmer, e os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
O telefonema foi organizado de última hora, após a divulgação de detalhes do plano de Trump para a Ucrânia, que estabelece que Kiev cederá toda a região oriental da Bacia do Don (Donbass), incluindo as províncias de Donetsk e Lugansk, à Rússia, e limitará seu exército a 600 mil efetivos.
Além disso, a proposta prevê anistia para os dois países, o que impedirá que dirigentes russos sejam processados por crimes de guerra, e um pacto de não agressão entre Europa, Rússia e Ucrânia, determinando que todas as “ambiguidades” dos últimos 30 anos sejam consideradas “resolvidas”.
O plano de Trump ainda fixa a realização de eleições para presidente ucraniano em até 100 dias após a assinatura do acordo e coloca a usina de Zaporizhzhia, maior central nuclear da Europa, sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), com a eletricidade distribuída igualmente entre Ucrânia e Rússia.
Nenhum soldado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) seria enviado para o território ucraniano, enquanto Kiev abriria mão definitivamente de entrar na aliança militar.
Em troca, a Ucrânia obteria “garantias de segurança” contra eventuais futuros ataques de Moscou, incluindo a presença de um esquadrão de caças europeus na vizinha Polônia. Nesse esquema, uma agressão contra Kiev seria tratada como um ataque a “toda a comunidade transatlântica”.
“Todas as decisões que dizem respeito aos Estados europeus, à União Europeia e à Otan precisam do consenso dos parceiros europeus e dos aliados”, diz o comunicado da conversa entre Merz, Starmer, Macron e Zelensky.
Eles elogiaram os “esforços dos EUA” em prol da paz, mas alertaram que a atual linha de frente do conflito deve servir apenas como “ponto de partida” para discussões territoriais, enquanto a Rússia rejeita enfaticamente devolver zonas já conquistadas.
A Ucrânia “precisa tomar uma decisão responsável”, e deve fazer isso “agora”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “O espaço para a liberdade de decisão para Zelensky se reduz conforme ele perde territórios”, acrescentou.
Peskov, no entanto, explicou que a Rússia ainda não recebeu oficialmente nenhum plano, assim como a União Europeia.
Zelensky, por sua vez, disse no X que qualquer saída para a guerra precisa assegurar uma “paz verdadeira e digna”. Segundo o jornal americano The Wall Street Journal, os líderes europeus trabalham em uma contraproposta alternativa ao plano de Trump, cujo governo estaria ameaçando cessar a ajuda militar a Kiev caso a oferta seja recusada.
Já de acordo com a agência Reuters, a Casa Branca teria dado até 27 de novembro para a Ucrânia assinar uma parte do acordo, que deve ser um dos principais temas da cúpula do G20 na África do Sul, neste fim de semana. (ANSA).