A rotina das eurodeputadas inclui trabalhar “muito mais” do que os seus homólogos masculinos, sofrer ataques machistas online e ter que conciliar as vidas política e pessoal, segundo três deputadas eleitas em 2019.

“Uma mulher tem que trabalhar muito mais do que um homem, porque eles não lhe farão nenhum favor se você tiver o menor defeito técnico”, disse a parlamentar francesa Aurore Lalucq, do partido de centro-esquerda Place Publique.

Lalucq, de 44 anos e economista de formação, fez da regulamentação bancária e financeira a sua principal área de atuação desde a sua chegada ao Parlamento Europeu.

No entanto, quando ingressou na Comissão dos Assuntos Econômicos e Monetários, encontrou um mundo cheio de “homens com roupas cinzas”: para cada mulher havia dois legisladores do sexo masculino.

“As mulheres estão mais associadas a políticas sociais, familiares ou de direitos humanos. Tudo o que é visto como mais sério, mais técnico, infelizmente ainda é considerado algo feito por homens”.

Quando ela decidiu discutir a regulamentação das criptomoedas, foi vítima de assédio online.

“‘Volte para a cozinha!’, ‘O que ela sabe sobre isso?’, comentam, e imediatamente começam a falar do seu físico, lançam ataques machistas, ou ataques de natureza sexual”, lamentou Lalucq, que no Parlamento Europeu atua no espaço dos social-democratas.

“Eles vão atacar você, vão observá-la de todos os ângulos. Seu trabalho nunca será bom o suficiente”, disse a belga Assita Kanko, do partido conservador N-VA, que trabalha no bloco nacionalista de direita.

Kanko tem 43 anos e trabalha especialmente com questões de segurança e violência contra as mulheres.

“Quero trabalhar muito, me aprofundar nos assuntos que me interessam, mas também quero estar em casa para o meu filho, e isso é muito complicado. É por isso que muitas mulheres não querem entrar na política”, afirma.

Nascida em Alto Volta (atual Burkina Faso) e mãe solo de uma filha de 16 anos, Kanko vive na Bélgica desde 2004 e fundou uma organização, Polin, para ajudar as mulheres a começar e ter sucesso na atividade política.

– Eliminar a desvantagem –

Entretanto, a legisladora francesa Leila Chaibi, de 41 anos e do grupo de Esquerda, lamentou que “durante a nossa licença-maternidade os nossos votos não contam, não podemos fazer procuração ou votar de forma remota”.

Em junho de 2023, em um discurso de enorme impacto e logo após o nascimento da filha, Chaibi afirmou em plenário que as mulheres “não deveriam ter que escolher entre exercer corretamente um mandato ou ter um filho”.

Segundo Lalucq, “é preciso criar condições que nos permitam não ficar em desvantagem só por sermos mães ou mulheres”.

As mulheres representaram apenas 16,6% dos deputados europeus nas primeiras eleições por sufrágio universal direto, em 1979, ano em que Simone Veil se tornou a primeira presidente do Parlamento Europeu.

Atualmente, quase 40% dos eurodeputados são mulheres.

Um estudo publicado pelo Serviço de Estudos do Parlamento Europeu em 2023 garante que esta quantidade está “acima da média mundial dos parlamentos nacionais” (26,5% no início de 2023).

“Também estaria acima da média dos parlamentos nacionais dos países da UE (31%)”, afirma o estudo, que alerta, no entanto, para grandes diferenças entre os Estados-membros.

Na Romênia, as mulheres legisladoras representam 15% do total, enquanto na Finlândia são 57%. Na Espanha, após as eleições de 2023, a porcentagem de mulheres eleitas foi de 44,3%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.

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