A Eurocâmara se uniu nesta quarta-feira aos pedidos pelo fim do silêncio a respeito do assédio sexual, com algumas eurodeputadas relatando suas experiências, após a onda de confissões públicas com o escândalo Weinstein.

“Eu também sofri assédio sexual, como milhões de mulheres na União Europeia”, declarou a eurodeputada ecologista Terry Reintke durante um debate no Parlamento de Estrasburgo.

Para a eurodeputada alemã “chegou o momento de dizer claramente que não devemos ter vergonha”.

“Os autores que devem passar vergonha”, completou.

O Parlamento Europeu deve aprovar na quinta-feira uma resolução a respeito.

Após a explosão do escândalo de Harvey Weinstein, o poderoso produtor de cinema americano acusado de assédio e agressões sexuais, as confissões sobre este tipo de abuso aumentaram consideravelmente.

No início da sessão, várias deputadas exibiram cartazes com a hashtag #Metoo (Eu também), que virou um símbolo nas redes sociais.

“Eu tinha 19 anos, na universidade. Ele tinha quase 70 anos, um professor, um intelectual”, confessou a italiana Eleonora Forenza, que pediu a todos que lutem “contra a cultura machista”.

Reintke pediu aos homens que também falassem a respeito. O social-democrata alemão Udo Bullmann criticou o presidente americano, Donald Trump, cuja maneira de falar sobre as mulheres diz muito “sobre o clima de tolerância”.

Para Elisabeth Morin-Chartier, que preside uma comissão contra o assédio na Eurocâmara, “todos devemos deixar de fazer vista grossa” e fazer com que as mulheres agredidas abandonem o sentimento de “humilhação e vergonha”.

A imprensa divulgou nos últimos dias casos de assédio dentro da Câmara, que não escapa deste tipo de agressão.

Casos de eurodeputados e seus auxiliares foram denunciados ao organismo competente, mas estes não estão vinculados a assédio sexual, de acordo com fontes parlamentares.

Outro organismo da instituição, dedicado aos funcionários fixos, recebeu denúncias sobre “casos de assédio sexual”.

“Foram adotadas sanções e medidas disciplinares”, que não foram divulgadas por “razões de confidencialidade”.

O eurodeputado socialista Edouard Martin, que pediu uma “auditoria externa para avaliar o alcance do fenômeno, neste Parlamento Europeu não há mais assédio que em outras partes, mas tampouco menos”.

Uma de suas auxiliares, Jeanne Ponté, compilou desde 2014 quase 50 comportamentos sexistas dentro da Eurocâmara.

“Desde episódios de baixo nível a outros em que devemos provar nossa legitimidade diante de um colega homem”, explicou à AFP.

O parlamentar pediu o fim da “precariedade” dos contratos de trabalho de assistente, já que “95% das mulheres são demitidas quando denunciam”.

“Hoje estou otimista, há uma tomada de consciência, muitas mulheres falam”, completou Ponté.

Muitas eurodeputadas – e alguns homens – insistiram durante o debate na necessidade de uma conscientização do fenômeno, inclusive por parte dos homens.

“Por mais horríveis que os atos possam ser, não podem justificar que se coloque em praça pública os supostos culpados”, afirmou a eurodeputada eurófoba francesa Mylène Troszczynski, que insiste em um enfoque judicial do problema.

A parlamentar da Frente Nacional, que considera necessário evitar transformar “cada homem ou jovem em um porco em potencial”, declarou que “as mulheres devem denunciar sem medo e os acusados defender-se no tribunal”.

“A famosa hashtag (na França) #BalanceTonPorc (Denuncia teu porco) revela o erro que não devemos cometer: confundir linchamento midiático e justiça”, segundo Troszczynski.