Rio – Pensei que jamais ouviria isso, mas meu filho de dois anos me pediu para guardar o smartphone e brincar com ele. Poxa filho, resmunguei baixinho, papai está trabalhando…. De fato, era algo importante. Acredito que o motivo para a maioria das pessoas ficar mexendo o tempo todo no celular seja inadiável, inextinguível, imarcescível, se assim não fosse, ninguém ficaria ao celular no restaurante, na parada de ônibus, namorando, conversando e até em situações mais perigosas – dirigindo, por exemplo.

É algo que ninguém esquece, ninguém gosta de deixar em casa; todos levam consigo, para ir à esquina da rua onde mora ou para uma longa viagem, a passeio ou a negócios. O problema é esse: ficamos reféns da aderente tecnologia do aparelho móvel. E nossos filhos? O que fazer quando eles também experimentarem essa dependência? Poderemos dizer a eles que estão passando horas demais ao celular? Tempos atrás, era ficar muitas horas diante da televisão que preocupava.

A questão não é a tecnologia. A tecnologia pode ser muito útil, assim como o problema nunca foi a televisão. A questão é a forma como usamos a riqueza de conhecimentos produzida pela humanidade. Ainda não aprendemos a usufruir dos bens imateriais, como liberdade, direitos e deveres. Precisamos aprender muito mais quando se trata de bens materiais. As famílias estão ficando sem condições de educar as gerações contemporâneas, estimuladas a consumir e a ter, que não sabem lidar com as demandas da vida diária, amplificadas pelas tecnologias digitais. O que fazer? Por onde começar?

Podemos começar por nós mesmos, sendo mais gente e menos high-tech. Em alguns momentos, ser simples é ser elegante. Estar perto fisicamente é sempre ser mais presente. Ainda que a velocidade das informações encurte o tempo, ela jamais tornará mais próximas pessoas que se amam. Podemos exercitar a escuta na contemplação do olhar, e assim encorajar nossas palavras que foram esquecidas e nunca ditas.

Aliás, quantas palavras não falamos pessoalmente, por preferirmos a distância das redes sociais… Que tal mudarmos isso? Apertar a mão, abraçar ou beijar em vez de digitar ou usar o touchscreen. Olhar nos olhos, dizer o que nosso coração sente, que estamos felizes por esquecer um pouco o que ficou de fora do calor da presença humana. Nossos filhos agradecerão.

Eugênio Cunha é professor e jornalista