Na rede social, a agitação que precedeu a chegada de Harvey Weinstein à delegacia de Manhattan era evidente. Annabella Sciorra, que acusa Weinstein de estupro, reagiu já na tarde de quinta-feira, 24, ao anúncio de que ele ia se entregar e postou no Twitter: “Mal posso esperar!” Outras atrizes, entrevistadas na TV, reagiram com certo triunfalismo pelo fim da impunidade que atravessou mais de três décadas, de acordo com as denúncias.

Mas a euforia com o castigo pelo crime, algo que só virá, de fato, se Weinstein for condenado, pode ser passageira e levar à depressão, alerta a psiquiatra Patricia Resick. Ela é uma das pioneiras no tratamento de vítimas de abuso sexual e transtorno de stress pós-traumático, conhecido nos EUA pela sigla P.T.S.D. Resick é co-autora, entre outros títulos, de um respeitado manual de tratamento para vítimas de estupro.

Em mais de quarenta anos de experiência como terapeuta, ela diz ao jornal O Estado de S. Paulo, nunca viu nada parecido à velocidade e força do movimento #MeToo. O ano de 1980 marcou a primeira vez que o P.T.S.D. foi diagnosticado oficialmente nos Estados Unidos e a definição já encampava tanto traumas sexuais como experiências de veteranos de guerra ou sobreviventes de desastres.

Resick nota que a grande maioria dos casos de estupro ou assalto sexual não chega aos tribunais. E, quando chegam, “se a vítima ficar obcecada pelo processo, pode se iludir de que algo vai mudar internamente. Não muda, o P.T.S.D. está dentro da pessoa e, em muitos casos, uma vitória judicial é seguida de depressão,” diz a psiquiatra. Outra reação viria de vítimas anônimas, assistindo a demonstrações em massa de solidariedade por um caso famoso. “Eu não sou ninguém, a polícia nem acreditou em mim.” Ou, “será que eu não podia ter evitado, não resistido o suficiente?”

“A justiça não é um direito e sim um ideal,” lembra Resick, e é importante a terapia ajudar a vítima a fazer distinções, o terapeuta deve entrar como um moderador de expectativas.

Quanto ao debate online, a médica diz que é mais a província da mídia ou de quem não é vítima. “As pessoas que procuram ajuda para tratar de um trauma,” diz ela, “não querem revivê-lo na rede social.”

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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