Os Estados Unidos vetaram, nesta terça-feira (20), um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia “um cessar-fogo imediato” em Gaza, o terceiro bloqueio do país a uma iniciativa do tipo desde o início da guerra entre seu aliado, Israel, e o grupo islamista palestino Hamas.

A resolução, elaborada pela Argélia, exigia “um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes” e se opunha ao “deslocamento forçado da população civil palestina”. Obteve 13 votos a favor, a abstenção do Reino Unido e o veto americano.

“Não podemos apoiar uma resolução que poria em risco negociações delicadas” para alcançar uma trégua, declarou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ao mesmo tempo em que defendeu um esboço alternativo redigido por seu país.

O enviado palestino da ONU, Riyad Mansour, classificou o veto americano como “absolutamente imprudente e perigoso”, alertando que “a mensagem enviada hoje com este veto é que Israel pode continuar conseguindo o que quer”.

O Hamas também considerou que o veto dá “luz verde” a Israel para cometer “mais massacres”.

A decisão gerou uma onda de críticas não só por parte da China e Rússia, que rejeitaram o forte apoio americano a Israel, mas também de aliados dos EUA como França, Malta e Eslovênia.

“O número de vítimas e a situação humanitária são intoleráveis e as operações israelenses devem parar”, declarou o embaixador francês da ONU, Nicolas de Riviere. O representante argelino, Amar Bendjama, afirmou, por sua vez, que “lamentavelmente o Conselho de Segurança falhou mais uma vez”.

A votação ocorreu enquanto Israel se prepara para uma ofensiva terrestre na cidade de Rafah, a última da Faixa de Gaza que não foi invadida por suas tropas e onde estão refugiadas 1,4 milhão de pessoas.

Israel enfrenta uma pressão crescente para evitar esta incursão, inclusive de parte dos Estados Unidos.

“Não se trata, como alguns membros têm afirmado, de um esforço americano para encobrir uma incursão terrestre iminente, mas de uma declaração sincera da nossa preocupação com o milhão e meio de civis que buscaram refúgio em Rafah”, disse Thomas-Greenfield antes da sessão.

– Trégua em “risco” –

Assim como os esboços anteriores rejeitados por Israel e Estados Unidos, o texto vetado nesta terça condenava o ataque sem precedentes do grupo islamista contra Israel de 7 de outubro, que causou a morte de mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva que deixou mais de 29.000 mortos em Gaza, a grande maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

No fim de semana, os Estados Unidos já tinham ameaçado bloquear o projeto de resolução argelino.

Washington considera que esta resolução punha em risco as delicadas negociações diplomáticas em curso para obter uma trégua que inclua uma nova libertação de reféns.

Em seu lugar, os Estados Unidos distribuíram um esboço alternativo, ao qual a AFP teve acesso.

Embora o texto inclua a palavra “cessar-fogo” – que os Estados Unidos evitaram anteriormente, vetando dois projetos em outubro e dezembro que usavam o termo -, não pede o fim imediato das hostilidades.

Para o enviado russo da ONU, Vasili Nebenzya, o projeto de resolução de Washington pretendia “desviar a atenção do último e vergonhoso exercício de veto dos Estados Unidos.

– Sem data-limite –

Ecoando as recentes declarações do presidente americano, Joe Biden, submetido a uma pressão crescente antes das eleições presidenciais de novembro, nas quais tentará a reeleição, o texto alternativo faz referência a um “cessar-fogo temporário em Gaza assim que possível” com base em uma “fórmula” de libertação de todos os reféns.

“Não temos planos de nos apressarmos para votar nosso texto”, afirmou na segunda-feira um alto funcionário americano, que disse não ter uma “data-limite”.

O texto americano “não pode ser aprovado tal como está”, comentou uma fonte diplomática, citando vários “problemas” na redação do conceito de “cessar-fogo”.

Alguns diplomatas questionaram as reais intenções de Washington.

“Realmente querem esta resolução ou querem empurrar a outra parte para o veto?”, perguntou-se um deles, destacando a probabilidade de um veto russo a qualquer texto elaborado pelos Estados Unidos.

O Conselho, há anos muito dividido sobre a questão israelense-palestina, só conseguiu aprovar duas resoluções a respeito desde 7 de outubro, essencialmente humanitárias e sem grandes resultados.

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