EUA: trabalho do procurador especial está apenas começando, dizem analistas

EUA: trabalho do procurador especial está apenas começando, dizem analistas

As indiciações feitas pelo procurador especial Robert Mueller contra três membros da campanha de Donald Trump são apenas os primeiros passos na investigação sobre o papel da Rússia na eleição presidencial americana de 2016 – concordam diferentes analistas ouvidos pela AFP.

Ex-diretor do FBI (a Polícia Federal americana), Mueller enviou uma demolidora mensagem sobre as cartas que tem na manga, ao indiciar o ex-chefe de campanha de Trump Paul Manafort e seu associado Rick Gayes, assim como ao obter uma confissão de culpa do assessor Georges Papadopoulos por ter mentido sobre seus contatos com funcionários do governo russo.

Com o indiciamento de Papadopoulos por falso testemunho, apenas cinco meses depois de iniciada a investigação, Mueller também mostrou que possui provas para encurralar pessoas próximas ao presidente.

O advogado Aaron Zelinsky, que integra a equipe de investigadores sob o comando de Mueller, deixou uma pesada ameaça no ar, ao falar perante uma corte federal em Washington, no caso de Papadopoulos.

“Há uma enorme investigação em andamento, da qual este caso é apenas uma pequena parte”, disse.

– Apenas a ponta do iceberg –

Para o advogado Bradley Moss, especialista em casos de Segurança Nacional, “isso é apenas o começo”.

Mueller, que manteve discrição absoluta desde que assumiu a investigação, indiciou Manafort e Gates por conspiração, lavagem de milhões de dólares e falso testemunho sobre suas responsabilidades como lobistas em favor do governo da Ucrânia.

Os dois foram postos sob prisão domiciliar depois de pagarem fianças milionárias.

Na opinião de Moss, “Manafort foi o objeto mais brilhante que distraiu todo mundo. Papadopoulos foi a peça fundamental da história”.

O caso contra Papadopoulos, de 29 anos, completamente desconhecido até março de 2016 – quando se tornou assessor da campanha de Trump para assuntos de política externa -, apoia-se em suas comunicações com o núcleo de campanha.

Em e-mails agora em poder de Mueller, Papadopoulos discute com integrantes de alto perfil da campanha Trump uma reunião com funcionários russos para obter “podres” sobre a então candidata democrata, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Discute-se ainda a possibilidade de realizar um encontro entre o magnata republicano e autoridades russas.

Os documentos divulgados quase não mostram respostas do comitê de campanha a Papadopoulos. Além disso, os nomes de seus interlocutores estão cobertos.

– Um ‘mentiroso’ atrai atenções –

O que já se sabe é impressionante, porém.

Em agosto de 2016, um anônimo “supervisor de campanha” sugeriu Papadopoulos a viajar para Moscou para se encontrar com esses funcionários russos. Outro membro da campanha lhe comunicou que Trump não faria essa viagem, mas sim “alguém de mais baixo escalão” da equipe.

Para alguns, contudo, a “prova” apenas expõe Papadopoulos como uma pessoa sem qualquer experiência, operando nas margens da campanha.

Trump já declarou que Papadopoulos era um “mentiroso”, ao mesmo tempo em que o ex-assessor teve seu papel minimizado pela Casa Branca, que o descreveu como um “voluntário sem salário e sem qualquer responsabilidade” na campanha.

Segundo o advogado Randall Samborn, que já participou de outras investigações, a confissão de Papadopoulos por mentir para os agentes do FBI foi um passo inteligente dado por um investigador experiente como Mueller.

Para Samborn, a confissão sugere que Mueller tem agora uma testemunha disposta a colaborar com a mais sólida evidência, até o momento, ligando a campanha de Trump à Rússia.

“Agora sabemos que Mueller e sua equipe estão concentrados em todos os aspectos da investigação”, disse Samborn, acrescentando que a opinião pública por ora “vê pequenos fragmentos daquilo que Mueller escolhe compartilhar conosco”.

– Papadopoulos e um alerta –

Na avaliação de Samborn, não havia necessidade legal de divulgar agora a confissão de Papadopoulos, mas, ao fazê-lo, Mueller atingiu com um único golpe as críticas de que a investigação estava em ponto morto.

Em geral, nenhuma prova conhecida até então implica Trump, seja com conexões com funcionários russos, seja por obstrução de Justiça, outro aspecto da investigação de Mueller.

Analistas ressaltam que a confissão de Papadopoulos revela que Mueller já interrogou nomes de peso da campanha eleitoral de Trump que se comunicaram com o jovem pelos famosos contatos com russos.

De acordo com o jornal “The Washington Post”, esses interlocutores de Papadopoulos foram Manafort, Gates, o ex-chefe de campanha Corey Lewandowski e o vice-diretor Sam Clovis.

Na opinião de Moss, esses quatro (especialmente Manafort e Gates, que podem passar anos atrás das grades por lavagem de dinheiro) agora devem considerar seriamente a possibilidade de colaborar com Mueller para se protegerem.

“É como se dissesse ao pessoal do mundo de Trump: ‘Sei de tudo e lhes darei uma amostra do que eu tenho. Agora, é a hora de fazer acordos, e vou para cima de todos vocês'”, completou Moss.