O presidente Donald Trump assinou, nesta segunda-feira (20), um decreto para retirar, pela segunda vez, os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o clima, um desafio aos esforços globais contra o aquecimento global, enquanto fenômenos meteorológicos catastróficos se intensificam em todo o mundo.
O republicano também assinou uma carta formal, notificando as Nações Unidas sobre a decisão do país de abandonar o histórico acordo de 2015, um processo que levaria um ano.
O acordo visa a reduzir as emissões de gases de efeito estufa que impulsionam as mudanças climáticas.
O republicano também anunciou que sua administração vai declarar uma “emergência energética nacional” para ampliar significativamente a exploração de petróleo no maior produtor de petróleo e gás do mundo, além de descartar futuras normas rigorosas de poluição para automóveis e caminhões, as quais ridicularizou como um “mandato de veículos elétricos”.
Mesmo antes de sua saída formal, essa decisão representa um duro golpe para a cooperação internacional destinada a reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Críticos alertam que a medida poderia incentivar outros grandes emissores, como China e Índia, a reduzirem seus próprios compromissos.
Essa decisão ocorre em um momento em que as temperaturas médias globais ultrapassaram pela primeira vez, nos últimos dois anos, o limite crítico de aquecimento de 1,5ºC, destacando a urgência de ações climáticas.
O secretário-executivo da ONU para Mudança Climática, Simon Stiell, afirmou logo após o anúncio de Trump que “a porta continua aberta” para o retorno ao acordo.
Stiell enfatizou que “o crescimento global das energias limpas – avaliado em 2 trilhões de dólares (R$ 12 trilhões) apenas no ano passado – é o acordo de crescimento econômico da década. Adotá-lo significa enormes benefícios, milhões de empregos e ar limpo”.
“A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris é lamentável, mas a ação climática multilateral demonstrou sua resiliência e é mais forte do que as políticas de um único país”, declarou Laurence Tubiana, diretora-geral da Fundação Europeia para o Clima e uma das principais arquitetas do Acordo de Paris.
Mais exploração, menos veículos elétricos
Trump utilizou seu discurso de posse para adiantar uma série de decretos federais de grande alcance relacionados à energia, com o objetivo de desfazer o legado climático de Joe Biden.
“A crise inflacionária foi causada por gastos excessivos massivos e pelo aumento dos preços da energia, e é por isso que hoje também declararei uma emergência energética nacional. Vamos ‘perfurar, querida, perfurar!'”, disse Trump.
“Voltaremos a ser uma nação rica, e é esse ouro líquido sob nossos pés que ajudará a alcançar isso”, acrescentou.
“Com minhas ações de hoje, poremos fim ao Green New Deal, e revogaremos o mandato do veículo elétrico, salvando nossa indústria automobilística”.
A menção de Trump ao Green New Deal pode ser uma referência à Lei de Redução de Inflação – a lei climática assinada por Biden, que canaliza bilhões de dólares em créditos fiscais para energias limpas -, no lugar de uma resolução de 2019 com o mesmo nome, que nunca chegou a ser aprovada pelo Congresso.
Elogios e críticas
As promessas de Trump foram bem recebidas por líderes da indústria de energia, que enxergam as políticas da administração como um retorno à era do “domínio energético americano”.
“A indústria americana de petróleo e gás natural está pronta para trabalhar com a nova administração para oferecer soluções energéticas de bom senso, como os americanos votaram”, afirmou Mike Sommers, presidente e CEO do Instituto Americano de Petróleo.
No entanto, as promessas provocaram indignação imediata entre defensores do meio ambiente, que argumentam que dobrar a produção de combustíveis fósseis ignora os desafios urgentes das mudanças climáticas.
“Essa declaração é mais uma prova de que Trump parece não reconhecer o mundo real”, disse à AFP Athan Manuel, diretor do programa de proteção da terra do Sierra Club.
“Os Estados Unidos estão produzindo mais energia, mais petróleo e gás do que qualquer país já produziu.”
Os fenômenos climáticos extremos têm se agravado recentemente. No ano passado, provocou uma série de furacões destruidores, entre eles o furacão Helene, que devastou o sudoeste dos Estados Unidos, e este mês, os incêndios que devastam Los Angeles.