Família de pescador colombiano morto em ação militar dos EUA contra supostos "narcoterroristas" acusa o governo Trump de execução extrajudicial em denúncia formal à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).A família de um pescador colombiano morto em um dos ataques recentes dos Estados Unidos a embarcações no Mar do Caribe denunciou o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) como execução extrajudicial.
É a primeira queixa formal contra o governo de Donald Trump desde que forças americanas passaram a atacar barcos no Caribe e no Pacífico sob a justificativa de combater "narcoterroristas" .
Desde setembro, houve 21 ataques do tipo, que deixaram mais de 80 mortos.
Até agora, a Casa Branca não apresentou provas de que os alvos atacados estivessem de fato traficando drogas para os Estados Unidos ou representassem qualquer ameaça à segurança nacional.
A CIDH é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA) e é composta por sete juristas, que recebem denúncias e petições individuais, que podem em alguns casos ser encaminhadas à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), um órgão judicial.
Do que os EUA são acusados?
A família de Alejandro Carranza Medina – morto em um ataque americano fora da costa da Colômbia em 15 de setembro – afirma que ele teve negado seu direito ao devido processo legal e a um julgamento justo, contrariando o direito internacional.
Esta é a mesma avaliação de especialistas que criticam os bombardeios americanos a barcos na região. A própria Organização das Nações Unidas também questionou a legalidade dos ataques.
"Sabemos, por diversas notícias na imprensa, que Pete Hegseth, secretário americano de Defesa, foi responsável por ordenar o bombardeio de barcos como os de Alejandro Carranza Mediana e o assassinato de todos que estavam em tais barcos", afirma a família do pescador colombiano.
"O secretário Hegseth admitiu que deu tais ordens apesar do fato de ele não saber a identidade daqueles que estavam sendo alvo desses bombardeios e assassinatos extrajudiciais."
Segundo o jornal britânico The Guardian, a família de Carranza destaca ainda que a conduta de Hegseth foi "ratificada" por Trump.
O pescador deixou quatro filhos e, conforme a denúncia, a família agora estaria sendo ameaçada por paramilitares.
Em outubro, o presidente colombiano Gustavo Petro disse que Carranza pode ter tido algum contato com o tráfico de drogas. O político, porém, tem criticado as ações americanas na região e se refere aos ataques como "execuções extrajudiciais".
À CIDH, a família da vítima disse que ele às vezes também pilotava barcos para terceiros, mas negou que estivesse transportando drogas quando foi alvejado.
EUA mataram náufragos
Apesar de as decisões da CIDH não serem vinculativas para o governo americano, um relatório negativo poderia constranger a Casa Branca.
A queixa vem num momento em que o governo Trump está sob pressão tanto de seus aliados republicanos quanto da oposição democrata por causa da morte de dois náufragos em 2 de setembro. Eles haviam sobrevivido a um primeiro ataque das forças americanas no Mar do Caribe, apenas para serem assassinados momentos depois em um bombardeio subsequente.
A Casa Branca alegou não ter sido consultada sobre o segundo ataque e atribuiu a decisão a um comandante militar.