Os Estados Unidos sancionaram, nesta terça-feira (3), uma rede chinesa por fornecer substâncias a traficantes de drogas, como os cartéis mexicanos, para fabricar fentanil e outras drogas sintéticas, às vésperas de uma reunião bilateral de segurança no México.

Em várias acusações na Flórida, o Departamento de Justiça acusou oito empresas sediadas na China e 12 de seus executivos “por crimes relacionados à produção, distribuição e importação de fentanil, outros opioides sintéticos, metanfetaminas e seus precursores químicos”, ou seja, as substâncias com as quais são fabricadas, afirmou o procurador-geral Merrick Garland em coletiva de imprensa em Washington.

Além disso, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, sigla em inglês) do Departamento do Tesouro impôs sanções a 28 pessoas e empresas. Vinte e cinco delas estão na China (incluindo os sancionados pelo Departamento de Justiça) e três no Canadá.

Os cartéis de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación estão entre os destinatários das substâncias produzidas pelos sancionados, incluindo Wang Shucheng e Du Changgen, segundo o Tesouro.

Washington acusa Wang de ter ordenado que outros criassem empresas para usá-las como fachada no comércio global de produtos farmacêuticos. E Du lidera a rede responsável por fabricar e distribuir toneladas de precursores de nitacenos, fentanil, metanfetaminas e ecstasy (Molly ou MDMA).

A rede também é uma “fonte de fornecimento” para traficantes nos Estados Unidos, vendedores na dark web e lavadores de dinheiro em moedas virtuais, afirma Washington.

Portanto, os Estados Unidos agora proíbem que eles usem seu sistema financeiro e impedem que os americanos realizem transações com eles.

– “Todos os elos” –

O governo do presidente Joe Biden pretende “quebrar todos os elos da cadeia global de fentanil”, afirmou Garland, que considera a participação da China nesta tarefa “fundamental”.

Garland discutirá a crise do fentanil nesta quinta-feira no México durante o Diálogo de Alto Nível de Segurança, que também contará com a presença do secretário de Estado americano, Antony Blinken, e do secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas.

O fentanil, 50 vezes mais potente que a heroína, causou dezenas de milhares de mortes nos Estados Unidos em 2022 e prejudica as relações com o país vizinho, cujos republicanos acusam de não fazer o suficiente para combater os traficantes.

Especialmente contra os cartéis de Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, acusados por Washington de fabricar a maioria do fentanil que entra no país.

Os democratas reconhecem que a cooperação poderia ser melhor, mas elogiam algumas iniciativas do México, como a extradição de Ovidio Guzmán López, um dos filhos do traficante mexicano Joaquín “Chapo” Guzmán.

“Ele é um dos mais de uma dúzia de líderes de cartéis que acusamos e extraditamos para os Estados Unidos. Não será o último”, alertou Garland.

“As acusações de hoje miram na ameaça onde ela começa”, afirmou Anne Milgram, diretora da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA), na mesma coletiva de imprensa.

É difícil rastrear as substâncias porque os fabricantes as camuflam, usam endereços de remetentes falsos, enviam-nas por transportadoras aéreas e terrestres e são principalmente pagas com criptomoedas.

– Drogas “zumbi” –

Além dos precursores do fentanil, as empresas chinesas “fabricam outras drogas sintéticas” que tornam a ameaça “ainda mais mortal”, afirmou Milgram.

Uma delas é a xilazina, conhecida como tranq ou droga “zumbi”. Este analgésico veterinário, geralmente misturado com fentanil, pode apodrecer a pele e levar a amputações. É extremamente perigoso porque a naloxona, um antídoto que pode reviver uma pessoa revertendo uma overdose de opioides, não é eficaz contra os efeitos da xilazina.

Outra substância preocupante são os nitacenos, que não são aprovados para uso médico nos Estados Unidos. Alguns deles são muito mais potentes que o fentanil.

Além dessas substâncias, os Estados Unidos afirmam estar combatendo outras em constante evolução. Os traficantes se esforçam para mudar as fórmulas para escapar das forças de segurança. Isso é o que Milgram chama de “análogos do fentanil”.

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