A conferência sobre o desenvolvimento palestino, organizada pelos Estados Unidos e prevista para esta terça e quarta-feira no Bahrein, poderá permitir que Washington aproxime seus aliados do Golfo de Israel, em um momento em que aumentam as tensões com seu inimigo comum, o Irã.

A Autoridade Palestina, no entanto, vai boicotar a reunião batizada de “Da paz à prosperidade”. Nela, participarão potências regionais como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

Durante o encontro, os Estados Unidos apresentarão o capítulo econômico de seu esperado plano de paz para o Oriente Médio.

Os israelenses anunciaram sua participação, apesar de não informarem se enviarão uma delegação oficial ou apenas empresários a Bahrein, um país com o qual não mantém relações diplomáticas.

Na opinião de Hussein Ibish, pesquisador do Arab Gulf States Institute de Washington, os países do Golfo “estão conscientes de que uma conferência sobre o desenvolvimento palestino sem palestino e sem a participação oficial de Israel é ridícula”.

“Acho que, mais do que tudo, querem marcar pontos positivos para a administração Trump, especialmente nesses tempos de tensão com o Irã”, afirmou à AFP.

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A equipe americana, liderada por Jared Kushner, o genro e conselheiro do presidente americano, Donald Trump, revelará os detalhes de seu plano econômico.

O governo dos Estados Unidos já disse no sábado que espera arrecadar mais de US$ 50 bilhões e criar um milhão de empregos para os palestinos dentro de dez anos.

Sem a presença das principais partes interessadas, os especialistas não esperam que a conferência leve a resultados tangíveis, mas permitirá que Washington tente uma reaproximação dos Estados do Golfo com seu principal aliado na região, Israel, no contexto de uma aliança anti-iraniana.

“Não acredito que a […] ausência de líderes palestinos […] contradiga de alguma forma a vontade americana de fortalecer a aliança nascente, ainda não oficial, que reúne os Estados Unidos, Israel e alguns países do Golfo contra o Irã” , considera o analista Neil Partrick, especialista em Oriente Médio.

“As prioridades de segurança nacional da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein contra o Irã pesam muito mais do que a pressão ideológica que por um tempo provocou a causa palestina nos líderes árabes”, afirma ainda.

– Situação política x econômica –

“Se você quiser unir o mundo inteiro contra o Irã, é preciso levar adiante o processo de paz entre Israel e os palestinos”, afirma Yoel Guzansky, ex-diretor da seção de países do Golfo no Conselho de Segurança Nacional de Israel.

Israel intensificou os esforços no ano passado para fortalecer seus laços com os países do Golfo, embora não tenha admitido isso oficialmente.

Em outubro, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fez sua primeira visita a Omã.

No ano passado, em uma entrevista concedida à revista americana The Atlantic, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, declarou que os israelenses, assim como os palestinos, “têm direito a possuir sua própria terra”.

No entanto, na opinião de Hussein Ibish, “uma real aproximação entre Israel e os Estados do Golfo, que é aberta e significativa, não está na agenda enquanto o processo de paz permanecer em um impasse e a questão de Jerusalém não for resolvida”.


O presidente palestino, Mahmud Abbas confirmou isso ao afirmar, no sábado, que “a situação econômica não deve ser discutida até que a situação política seja abordada”.


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