Os Estados Unidos puseram em dúvida nesta quarta-feira (27) o risco de suicídio de Julian Assange, enquanto a justiça britânica examina seu pedido para extraditar o fundador do WikiLeaks. Além disso, deram garantias sobre o tratamento que ele receberá caso seja entregue.

Solicitado por Washington pelo vazamento maciço de documentos sigilosos, o australiano de 50 anos pode pegar pena de 175 anos de prisão nos Estados Unidos, em um caso considerado um ataque contra a liberdade de imprensa por seus seguidores.

Nesta audiência, que deve se estender até a quinta-feira, os Estados Unidos esperam convencer o Alto Tribunal de Londres a anular a decisão de janeiro da juíza Vanessa Baraitser. A magistrada tinha rejeitado o pedido de extradição, baseando-se no risco de Assange se suicidar se fosse encarcerado em um presídio americano.

Nesta quarta-feira, o advogado que representa o governo americano, James Lewis, assegurou que Assange não apresentava “nenhum antecedente de doença mental grave e duradoura” e afirmou que inclusive os especialistas de sua defesa o encontraram “moderadamente deprimido”.

Segundo ele, o fundador do WikiLeaks tinha “todas as razões para exagerar seus sintomas” e alertou contra uma decisão que se basearia nas previsões feitas em “bola de cristal” sobre seu destino caso seja extraditado.

Lewis insistiu em que a justiça americana vai garantir que Assange receba os cuidados clínicos e psicológicos necessários e que possa pedir para cumprir sua eventual pena na Austrália, seu país natal.

Também assegurou que não será submetido a medidas especiais, nem será detido no temido centro penitenciário de segurança máxima ADX Florence, no Colorado, conhecido como o “Alcatraz das Rochosas”.

A defesa de Assange respondeu que estas garantias não impedem que seja recluso em um centro similar e reiterou que os Estados Unidos não dispõem de nenhuma “base confiável” para apelar da recusa da extradição.

Detido há dois anos e meio no presídio de segurança máxima de Belmarsh, ao leste de Londres, após um longo asilo na embaixada do Equador, Assange participou da audiência por videoconferência.

Esta apelação no Alto Tribunal de Londres é um dos últimos recursos de Washington. Se fracassar, só lhe restará apelar ao Tribunal Supremo britânico. Se vencer, não será o fim do caso, pois este será reenviado a outro tribunal, que deverá se pronunciar sobre o fundo.

– “Muito magro” –

Antes do início da audiência, dezenas de pessoas se reuniram em frente ao Alto Tribunal de Londres para apoiar Assange.

“Não fez nada de errado do ponto de vista legal, ético ou moral”, disse à AFP Sadia Koknie, de 40 anos, presente para apoiar o militante australiano.

“Foi detido em condições repugnantes (…) Não devia estar aqui e o que viveu é totalmente ridículo”, acrescentou.

Assange, que conta com o apoio de várias organizações de defesa da liberdade de imprensa, é solicitado pelos Estados Unidos por espionagem devido à publicação de uns 700.000 documentos militares e diplomáticos sigilosos.

Ele foi detido pela polícia britânica em abril de 2019, depois de ter passado sete anos recluso na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio quando estava em liberdade sob fiança. Ele temia a extradição para os Estados Unidos ou a Suécia, onde era procurado por estupro, acusações que foram abandonadas desde então.

Tudo depende de se a justiça britânica “vai extraditar um jornalista para um país que fez um complô para assassiná-lo”, avaliou antes da audiência Stella Moris, companheira de Assange, “muito preocupada” após tê-lo visto “muito magro” na prisão no sábado.

“Espero que o tribunal ponha fim a este pesadelo”, disse.

Assange é alvo de um processo iniciado durante a presidência de Donald Trump. Sob o mandato de Barack Obama, de quem Joe Biden foi vice-presidente, a justiça americana tinha se recusado a agir contra o fundador do WikiLeaks.

Mas a eleição de Biden à Casa Branca não parece levar à reviravolta no caso que os seguidores de Assange esperavam.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, como Anistia Internacional, Human Rights Watch e Repórteres Sem Fronteiras, pediram em meados de outubro em carta aberta ao procurador-geral americano que abandonasse as medidas.