Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (17) que não participarão da Conferência das Nações Unidas sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FFD4), que começa em 29 de junho em Sevilha, no sul da Espanha, e rejeitaram muitos dos princípios do texto que será adotado nela.
“Após uma profunda reflexão e avaliação do texto, os Estados Unidos se retiram deste processo preparatório […] e não participarão da FFD4 em Sevilha, Espanha”, declarou Jonathan Shrier, representante americano na última reunião preparatória para essa conferência, que ocorrerá de 29 de junho a 3 de julho.
Os Estados Unidos “trabalharam para alcançar um documento conciso que reflita as ambições compartilhadas em matéria de financiamento ao desenvolvimento, em vez de um que imponha novas exigências, crie novas estruturas que impliquem duplicação e violem a soberania dos Estados-membros. Lamentamos esta oportunidade perdida”, acrescentou.
Este anúncio ocorre após Washington decidir, nos últimos meses, fazer grandes cortes em sua ajuda externa.
Após a retirada americana, os Estados-membros da ONU decidiram nesta terça-feira, por consenso, recomendar à FFD4 que adote o “Acordo de Sevilha”, último passo para um texto negociado durante meses.
O projeto de declaração, que destaca que os avanços rumo ao desenvolvimento humano “não estão no caminho certo”, reafirma o compromisso de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam, entre outras coisas, erradicar a pobreza extrema, combater a fome e promover a igualdade de gênero até 2030.
“Já não reafirmamos automaticamente a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse Shrier, que também lamentou o uso do termo “gênero” para se referir às diferenças entre os sexos.
Além disso, afirmou que os Estados Unidos se opõem à criação de um sistema de financiamento ao desenvolvimento que “interfira” com instituições financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, bem como a uma Convenção das Nações Unidas sobre cooperação fiscal, cujas negociações acabam de começar.
Muitos países em desenvolvimento, sufocados pelas dívidas, há muito tempo clamam por uma reforma da arquitetura financeira internacional para facilitar seu acesso ao financiamento e ao desenvolvimento.
O projeto de declaração da FFD4 segue este caminho, pois enfatiza que este sistema financeiro deve “se adaptar continuamente às realidades de um mundo em constante mudança”.
Além disso, insta os bancos multilaterais de desenvolvimento a considerarem a possibilidade de “triplicar” sua capacidade anual de concessão de empréstimos, ideia criticada pelos Estados Unidos.
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